caiman.de 10/2012

[art_1] Brasil: Rapte-me camaleão! – 70 anos Caetano Veloso
Vol. 6: Estrangeiro em tempos novos
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"Violão e banquinho" - eis a nova receita de Caetano depois do elétrico "Velô". Com "Totalmente demais", de 1985, Caetano antecipa o "MTV Acústico". Abre com "Vaca profana", música de letra inteligíssima que fez para a amiga Gal Costa. Segue com "Oba-lá-lá / Bim bom", duas músicas do mestre João Gilberto. Disco cheio de destaques como "Kalu", "Nosso estranho amor", "Dom de iludir", "Solidão" e "Amanhã". E uma versão fantástica de "Pra que mentir", de Noel Rosa. Este disco é uma obra prima de tirar o fôlego. E um secesso de venda.


Ele repete a receita com "Caetano", lançado apenas nos Estados Unidos, em 1986 (no Brasil, o disco sai apenas em 1990). Irmão gêmeo de "Totalmente demais", talvez até um pouco mais intimista, o disco traz "Trilhos urbanos", "O homem velho", "Luz do sol", "O leãozinho" e outros clássicos como "Terra" e "Saudosismo". Quase um disco "Best of" em formato acústico. Pela primeira vez, canta "Billie Jean", de Michael Jackson - música que citará em vários shows durante as próximas décadas.


"Caeatano", de 1987, mostra o sofrimento de Caetano com a morte do pai e o fim do casamento com a primeira mulher Dedé. "Estou no fundo do poço" - assim começa o disco em ritmo lento. Mais alegre, "Eu sou neguinha" conta com a força da "Banda nova", a banda que acompanha o baiano desde "Velô".


Destaques são ""Valsa de uma cidade", de Ismael Netto e Antonio Maria, homagem ao Rio de Janeiro, e "O ciúme", mais um hino para o querido nordeste, mais tarde eternizado pelo disco "O grande encontro", de Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, Elba Ramalho e Alceu Valença. Ponto forte das gravações é a mistura de ritmos africanos com música elétrica. Mesmo sem grandes composições de Caetano, uma volta à forma.

"Estrangeiro" - mais programa que puro título. Caetano vai a Nova Iorque para gravar esse disco de 1989 com o guitarrista americano Arto Lindsay. Parece Talking Heads cantando samba. Tempo novos, o fim da guerra fria, o avanço do neoliberalismo - Caetano se perde no ambiente tão novo. "O estrangeiro" abre o disco - uma obra prima. "O amor é cego, Ray Charles é cego" e Caetano se aventura em sons modernos, internacionais, que habitam essa terra estrangeira onde se encontra.


Dedica a leve "Branquinha" a Paula Lavigne, sua nova mulher. Mais destaques são "Meia-Lua inteira", de Carlinhos Brown, e "Genipapo Absoluto", que traz lembranças da cidade natal Santo Amaro - uma homenagem para seu pai, morto dois anos antes. Uma música tipo "Trilhos urbanos Vol. II.".

"Circuladô", de 1991, é quase um "Estrangeiro Vol. II.". Novamente produzido por Arto Lindsay, a primeira música "Fora da Ordem" segue o pensamento de "Estrangeiro". "Itapuã" e "Boas vindas" são temas lindas, "A terceira margem do rio" uma parceria interessante com Milton Nascimento. Mesmo assim, o disco tem um tom triste, uma inquietação com o mundo e a sociedade.


Em 1992, Caetano faz cinquenta anos. Hora de fazer um resumo da vida, rever a obra e se juntar ao mestre Jaques Morelenbaum, com quem trabalhará repentinamente no futuro. Caetano canta Bob Dylan ("Jokerman"), cita Michael Jackson ("Black and white") e o mestre João Gilberto ("Chega de saudade"), canta Roberto Carlos ("Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", música que Roberto tinha feito para Caetano no exílo em Londres, para consolar o amigo).


Ele visita sua fase "Doces Bárbaros" ("Um índio") e toca a marchinha de carnaval "A filha da Chiquita Bacana". Uma obra prima, um espetáculo fulminante com um mestre Caetano dominando o palco. Daqui adiante, Caetano foca mais nos shows que nas gravações. E, com isso, vira estrela internacional. Estranho, mas é verdade, como veremos no próximo mês.

Texto + Fotos: Thomas Milz

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