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[art_4] Brasil: Rapte-me camaleão! – 70 anos Caetano Veloso, Vol. 1
"Da Bossa Nova ao Tropicalismo"
 
70 anos de Caetano – em agosto, o astro baiano completa mais uma década. Um leão, como ele lembra na música "Tigresa" (aquela que cita Sônia Braga, que, depois de marcar seu coração com suas unhas negras, promete inventar um lugar onde "a tigresa possa mais que o leão"…).



Dono de uma imensa variedade de estilos musicais, que ele intercala, aparentemente sem seguir qualquer regra, durante sua carreira de 45 anos, Caetano até se parece mais com um camaleão. Rupturas brutais, mas sempre se inovando. Seu catálogo já conta com quase 50 discos oficiais, sem falar dos inúmeras coletâneas. Difícil ter todos (eu os tenho!!!!!)

E difícil não se perder na obra dele (mas para isso existe o Caiman!!!!). Nós vamos indicar as melhores músicas da longa carreira de Caetano.



"Da Bossa ao Tropicalismo" - estamos falando dos anos 65 até 69. O primeiro compacto de Caetano Velloso (atenção nos dois Ls no seu nome!) foi lançado em 1965, com as músicas "Samba em Paz" e "Cavaleiro". Bossas agradáveis, fieis ao estilo "Bossa Nova" tradicional do mestre João Gilberto (mais tarde, Caetano chama a Bossa de Gilberto um "statement of beauty"……). Destaque para a letra de "Samba em Paz": "O Samba vai crescer, quando o povo perceber, que é o dono da jogada. O Samba vai vencer, pelas ruas vai correr, uma grande batucada…". Parece uma visão de Caetano, logo no início da ditadura militar, prevendo a música "Vai passar" de Chico Buarque, lançada em 85, o ano em que a ditadura caiu.



O primeiro disco "Domingo", lançado em 1967, é uma (primeira) colaboração de Caetano com a cantora-amiga Gal Costa. Destaque para a contra-capa do disco, que traz, pela primeira vez, o nome "Veloso" com apenas um L… E destaque musical para "Coração Vagabundo", a única música da era Bossa Nova de Caetano que se manteve significante até hoje. No resto, os dois baianos seguem fiel o estilo João Gilberto. Mais interessante é a música "Saudosismo", que Caetano lançou em 1968 num compacto junto com a banda "Os Mutantes": "Ah! Como era bom, mas chega de saudade, a realidade é que, aprendemos com João, para sempre, ser desafinado…" Anúncio das mudanças que estão por vir…



Ou, melhor, que já estavam em andamento. No final de 1967, Caetano lança o disco "Caetano Veloso", um contraste absurdo quando comparado ao seu primeiro. Parece que o cantor / compositor madureceu musicalmente muito anos em apenas poucos meses. Logo no começo, anuncia os novos tempos na música "Tropicália": "Eu organizo o movimento.." Uma mistura audaciosa de Pop, Rock, Samba, Bolero – um prato cheio e bem diversificado. Destaque para "Alegria, alegria" ("caminhando contra o vento…), "Superbacana" e "Soy loco por ti, América", homenagem a Che Guevara.



Organizando o movimento, Caetano junta os musicos-amigos Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Rita Lee e Tom Zé no disco "Tropicalia". Destaque para "Baby", composição de Caetano, e "Panis et circensis", escrita junto com Gilberto Gil. O disco é uma montanha russa de estilos, que oscilam entre um intelectualismo esperto e puro kitsch (parecido com a fase "Strawberry Fields Forever – Sgt. Pepper" dos Beatles). 



Mas 1968, o ano das revoluções, traz também um Caetano aparentemente cheio de raiva. Dissonâncias, gritantes guitarras elétricas… Já no compacto de Caetano com os Mutantes, a música "A voz do morto" mostra a ruptura com o Pop-Rock-Bossa estilo bom moço. Em setembro de 68, a platéia da TV Globo vaia Caetano, que canta "É proibido proibir" – e desafia com isso os militares. Logo se encontrará na prisão, e, depois, confinado em Salvador, onde grava "Caetano Veloso", de 1969, uma verdadeira obra prima cheia de melancolia e saudades.



Logo no começo, a faixa "Irene" repete várias vezes o desejo "Eu quero ir minha gente, eu não sou daqui…". A letra se repete em "Marinheiro só": Eu não sou daqui…" Até o fado "Os argonautas" traz uma profunda saudade: "Navegar é preciso, viver nao é preciso". Chegou a hora de partir para o exílio, em Londres.



Destaque ainda para "Atrás do trio elétrico", o tango "Cambalache", de Enrique Discépolo ("Que el mundo fué y será una porqueria, ya lo sé!"), e "Alfômega", de Gilberto Gil ("Não sei nada sobre a morte…"). E não se pode esquecer o grande hit do disco, "Não identificado", mais conhecida na versão de Gal Costa. Assim termina a fase "Bossa - Tropicalismo" de Caetano, que logo parte, com Gilberto Gil, para Londres. 



Antes, os dois ainda se despedem de Salvador com duas apresentações no Teatro Castro Alves, que foram gravados em fita cassete. Em 1972, o registro é lançado como "Barra 69 - Caetano e Gil ao vivo". Destaque para uma versão triste de "Superbacana", com letras novas, e "Cinema Olympia", (um óptimo demo desta música só aparece em 2002, quando é achado nos arquivos de Caetano. Em 2006, essa versão é lançada na caixa "Todo Caetano", onde também se encontram as musicas do primeiro compacto de Caetano, de 1965, o do compacto ao vivo com os Mutantes, além de "É proibido proibir", entre ouras.) Caetano volta a esta fase da sua carreira musical no disco "Zii e Zie – MTV ao Vivo", lançado em 2011. Caetano abre a apresentação com "A voz do morto", além de tocar "Irene" e "Não identificado", as três músicas em versões fantásticas.




Bye-bye Caetano, te encontramos em Londres, no mês que vem.
Aqui no Caiman.



Texto + Fotos:
Thomas Milz

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