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Mas um problema real dificultava a navegação em alto mar: detrminar a latitude e a longitude. Já no ano 150 d. C., Ptolomeu fez um mapa-mundi, dividindo-o em latitude e longitude. O equador define-se mesmo pelo pino do sol, mas para o meridiano não tem nenhuma referência natural, e, na ausência disso, Ptolomeu definiu arbitrariamente a Ilha da Madeira como meridiano.
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Para determinar a latitude usava-se nas viagens de descobertas, nos séculos XIV, XV e XVI, um instrumento inventado pelos gregos por volta de 130 a.C., provavelmente pelo fundador da astronomia e trigonometria científica, Hiparco de Nicéia: o Astrolábio, precursor do Sextante. Com ele, os gregos mediam a altitude de edifícios e a profundidade de poços. Entretanto, o conhecimento científico se perdeu para o ocidente, nos tempos do império romano e na caótica Idade Média.
Foram os árabes que salvaram a herança científica da antiguidade clássica e aperfeiçoaram o astrolábio, até os portugueses o redescobrirem e o modificarem de tal forma que permitisse medir o ângulo da estrela polar ou a altura do sol até no alto mar. O peso de dois quilos o sujeitava menos ao balanço do navio, e a abertura do disco do astrolábio diminuia a resistência ao vento, permitindo-o ficar na vertical, mesmo com o balanço do navio.
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O procedimento de medir a latitude com o astrolábio funcionava da seguinte forma: no pólo norte, a estrela polar está exatamente em cima, na vertical em um ângulo de 90°. Quanto mais se desce para o sul, mais o ângulo diminui até chegar ao equador, onde se une com a linha do horizonte. No hemisfério sul usava-se o Cruzeiro do Sul. Durante o dia, pode se orientar através do sol, usando a altura máxima, ao meio-dia, para calcular a latitude.
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Definir a longitude foi um desafio muito maior e significou, durante séculos, uma tarefa quase insolúvel. É possível determinar a longitude através da medição do ângulo entre a lua e diversas estrelas, mas os instrumentos apropriados só foram desenvolvidos no século XVIII e funcionavam apenas com bom tempo. Uma outra possibilidade era calcular a longitude através do fuso horário entre o porto de partida e a posição atual. Como as longitudes, com a aproximação dos pólos, ficam cada vez mais curtas até se unirem, era necessária uma tabela para fazer o cálculo da atual posição. Teoreticamente, o mistério foi resolvido, mas na prática ainda faltavam os instrumentos adequados para medir o exato horário local.
Os navegadores tentaram fugir desse dilema navegando sempre na mesma latitude e medindo a velocidade do navio, para calcular, assim, a distância percorrida. Mas as correntezas do mar e o vento fizeram com que as cálculos quase sempre ficassem imprecisos. E para os piratas foi muito fácil achar e capturar os navios, pois sempre cruzavam os mares na mesma latitude.
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Era inevitável resolver o problema da medição do horário. Não faltaram idéias engraçadas e impossíveis como, por exemplo, a tentativa de usar a "pólvora da simpatia", remédio milagroso, para resolver o caso. Acreditava-se que bastava colocar a pólvora em alguma coisa que pertencesse à vítima ou na arma que a feriu, para curar o ferido, mesmo que essa pessoa se encontrasse longe.
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Só que o processo era tão dolorido, que o ferido gritava de tanta dor. Então surgiu a idéia de ferir um cachorro com uma faca, colocar o coitado em um barco que saia pelo mar afora, deixando a faca no porto da partida. Todo dia, exatamente ao meio-dia, espalhavam a pólvora na faca, que causava uma dor incrível no cachorro a bordo do navio. Ao ouvirem o cachorro gritar, os marinheiros teriam o horário exato no porto da partida.
Outra idéia era usar navios de canhões, ancorados espalhados por todo o mar. Várias vezes, durante o dia, disparariam os canhões. Observando-se a diferênca entre o raio e a detonação, o capitão de um navio que se encontrasse perto calcularia a distância entre seu navio e aquele que disparou os canhões e, assim, a distância percorrida. Como a da "pólvora da simpatia", essa idéia tampouco funcionou. Basta apenas pensar no problema da âncora no mar de uma profundidade de 6.000 metros para saber que não funcionaria.
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Só com os relógios marítimos, desenvolvidos por John Harrison durante o século XVIII, resolveu-se o problema da medição do horário em alto mar, e assim, da definição do grau de longitude. Numa viagem de ida e volta entre a Inglaterra e o Caribe, a discrepância do relógio registrou-se em apenas dois segundos.
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Os relógios do genial Harrison encontram-se hoje no National Maritime Museum em Londres. Com os navios, que, durante os séculos, afundaram nos mares, a maioria dos astrolábios sumiu. Até 50 anos atrás, conheciam-se, no mundo inteiro, apenas 20 astrolábios. Mas, devido aos mergulhadores caçadores de tesouros, hoje já são mais de 80 que podem ser vistos nos diversos museus marítimos. A maior e mais impressionante coleção de astrolábios é a do "Museu de Marinha", no bairro de Belém, em Lisboa.
Texto e fotos: Thomas Milz
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