caiman.de 09/2012

[art_1] Brasil: Rapte-me camaleão! – 70 anos Caetano Veloso
Vol. 5: Outras palavras
(Vol. 1) (Vol. 2) (Vol. 3) (Vol. 4)

Começam os anos 80 com Caetano no auge da sua criatividade. Com os últimas discos dos anos 70, criou vários sucessos. "Outras palavras", de 1981, segue essa tendência e vende muito, apesar de contem apenas duas músicas de destaque: "Outras palavras" e "Rapte-me, camaleoã". O resto? Um pouco de pop-jazz misturado com samba e um certo ar francês.


"Cores, nomes", de 1982, faz melhor. Mais Bahia, mais África ("Um canto de afoxé para o Bloco do Ilê") e menos pop. "Queixa" e "Trem das cores" são clássicos até hoje, "Cavaleiro de Jorge" lembra Tim Maia, "Sina" traz um dueto com Djavan, e com "Sonhos" Caetano escolha uma belíssima música de Peninha.


"Uns", de 1983, é mais uma obra prima do agora quarentão Caetano. As músicas "Uns", "Eclipse oculto" e, claro, "Você é linda" são os destaques do album. A última faixa, "É hoje", traz uma empolgante e contagiante versão do samba-enredo da escola de samba União da Ilha.

Destaque para a capa do disco, que traz um antigo "retrato do artista quando jovem" com seus irmãos.


Em 1984, Caetano lança "Velô", o primeiro disco com a "Banda Nova". Um Rock eletrônico, como o primeiro disco da Legião Urbana, do mesmo ano, ou os discos dos Paralamas do Sucesso daquela época. Ninguém conseguiu escapar daquele som, nem o mestre Caetano...

"Podres poderes" ("Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval...") vem com letra brilhante, igual "O quereres" (essas duas músicas formarão, em 2011, o esqueleto do disco ao vivo de Caetano com Maria Gadú). Caetano regrava "Nine out of ten", do disco "Transa", de 1972, numa versão ridicula, que, hoje em dia, parece tipo cantor de churrascaria.


Destaques para "O homem velho" e "Língua", samba-rap com Elza Soares. Ainda tem "Shy moon", talvez a música mais estranha de Caetano de todos os tempos. Parece trilha sonora de filme meia-boca de Hollywood, cantado em inglês com som ambiental plástico...

Com o mesmo som, mas com uma melodia boa e letra interessante, "Milagres do Povo" aparece, em 1985, na trilha da série "Tenda dos Milagres". Estamos no ano do fim da ditadura militar, do nascer de um novo Brasil democrático. As coisas mudam de rumo. E Caetano no meio disso?

Logo depois, Caetano descobre que o esquema "violão e banquinho" vende bem, que é mais gratificante cantar as músicas de outros e que é cada vez mais difícil compor os próprios hits. Aos quarenta e poucos anos, a carreira de Caetano enfrenta mais um encruzilhamento.

Texto + Fotos: Thomas Milz

[print version] / [arquivo: brasil]