caiman.de 06/2008

[art_1] Brasil: Exótica dos amores
A Parada Gay em São Paulo

Amor, em sua forma mais bela e perfeita, precisa de apenas duas pessoas. Quem não concordaria com isso? Há gente que jura que em grupo até seja melhor... Com certeza, essa gente está pensando em três, quatro, cinco ou, no máximo, seis pessoas. Por outro lado, tenho um amigo que se encontra com uma dúzia para deixar o amor aflorar. Ou será que ele estava se referindo apenas ao sexo?

Sei que agora todo mundo supõe que existe uma diferença gritante entre amor e sexo. Como se sexo não fosse um ato de amor! Será? Parece que existem varias situações que provocam uma inundação de neurotransmissores bem parecidos com anfetaminas no nosso cérebro, criando uma sensação de alegria.


Eu vou afinar meu instrumento
Pelo seu beijo no calor do meu ouvido
Vamos inventar um passatempo
Fazer amor perto de todos os sentidos

O sol sempre confunde nossos sentimentos. E um céu azul deixa cada coração romântico se encher de um sentimento divino e estranhamente infinito. Que dá medo quando some. "The sudden chill when lovers doubt their immortality" já cantou Elvis Costello numa bela musica. Mas de musica, nem vou falar aqui. "Falar sobre musica é como dançar sobre arquitetura."


Geme a metaleira quando sente
Que vai no vento o turbilhão do improviso
Quem cai nessa dança para sempre
Tocou pandeiro no quintal do paraíso


Estamos andando pela Avenida Paulista, no centro da cidade que muitos classificam como "desumana" ou "capital do egoísmo". Idiotas, eles não enxergam?

Ao lado, um novo amigo que parece ter caído do céu, num momento quando mais precisava de um... As vezes, o universo conspira. Falamos de tudo, de amores passados, de felicidades, de tristezas; das ingredientes que compõem e temperam a vida. Prestar os ouvidos a alguém é um ato de amor, com certeza.


Exótica das artes
O nosso amor selvagem
Acende os refletores
Quando arde


Participamos de um ato amoroso platônico entre três milhões de pessoas, que dançam na rua, cantam, se abraçam, dividem suas alegrias (e, as vezes, até fazem coisas não tão platônicas também). Nunca antes tinha gostado tanto deste evento. Normalmente, muita gente no mesmo lugar me apavora. Hoje não. A Parada flui como um rio pela Paulista e pela Consolação, ao toque de batidas alegres. "Você talvez não possa entender como estou feliz em ver tudo isso aqui", diz o amigo que, pela primeira vez, participa. "Se sentir igual aos outros, e não excluído." Entendo como ele se sente. Criamos demais divisoras em nossas vidas; temos que reverter.


Finge que não gosta de cinema
Pra começar comer pipoca no teatro
Quando me filmou lá na cantina
Se revelou e o meu amor ficou de quatro

Depois de anos apenas vendo a Parada, fotografando os "exóticos e exóticas" (que sempre são os e as mesmos e mesmas, só a cada ano doze meses mais velhos e velhas), consigo, de repente, deixar a "cobertura" de lado para realmente "participar". Apenas "estar" ao lado de outras pessoas também é um ato de amor, penso. Parece que sim.


Linda não combina com bandido
Você só rima com o verso mais bonito
Fica no meu corpo que eu preciso
Fazer amor perto de todos os sentidos

O amor não se define, e não é para se entender, também. Como já disse Picasso: "Todo mundo quer entender arte. Porque não tentar entender o canto de um passarinho?"

Com o amor deve ser o mesmo.


Exótica das artes
O nosso amor selvagem
Acende os refletores
Quando arde

Texto + Fotos : Thomas Milz

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