caiman.de 04/2009

[art_2] Brasil: Desistir nunca
A luta das "Mães da Sé" pelos seus filhos desaparecidos
 
"Não sei o que aconteceu com a minha filha. Ela desapareceu a 120 metros da minha casa." Há mais de 13 anos Ivanise Espiridião da Silva está a procura da sua filha Fabiana. Até agora, sem sucesso. "Ao longo destes anos eu procurei por uma resposta. Mas não a encontro."



Vinte e seis anos tem - ou teria - sua filha agora. "Minha filha nunca tinha ficado longe de mim nem por um dia. E agora já passou a metade da vida da minha filha que estou sem ela." Ivanise até atuou numa telenovela para obter a atenção da opinião pública.

Depois resolveu fundar, em São Paulo, um grupo de mães que passam pela mesma situação. Desde março de 1996 Ivanise encontra-se todos os domingos com outras mães à procura de filhos desaparecidos na escadaria da catedral da Sé, no centro de São Paulo, exibindo painéis com fotos dos desaparecidos. Ganharam o nome de "Mães da Sé".

200.000 pessoas desaparecem no Brasil todos os anos, entre elas 40.000 crianças. A polícia soluciona cerca de 85% dos casos, mas geralmente são os casos mais "fáceis" de crianças que fogem de casa. Mesmo assim, uma em cada sete crianças desaparecidas continua desaparecida, deixando, a cada ano, 6.000 famílias sem respostas.

No Brasil, desaparecer é um problema social, diz Ivanise. A maioria dos casos acontece nas classes mais baixas da sociedade. São casos de morte, pedofilia, prostituição de menores, trafico de órgãos - motivos cruéis não faltam. "Que direito essas pessoas têm de tirar nossos filhos?"


Francisca Ribeiro Santos também está a procura do único filho dela. Hugo, que tinha dez anos na época, desapareceu há 17 meses. Ele estava no portão da casa esperando a mãe voltar do trabalho. "Minha cunhada o chamou para entrar, mas ele quis esperar por mim. Quando cheguei, ele não estava mais em casa."

Francisca Ribeiro Santos também está a procura do único filho dela. Hugo, que tinha dez anos na época, desapareceu há 17 meses. Ele estava no portão da casa esperando a mãe voltar do trabalho. "Minha cunhada o chamou para entrar, mas ele quis esperar por mim. Quando cheguei, ele não estava mais em casa."

Francisca distribuiu fotos de Hugo na vizinhança, em hospitais e em praças públicas, botou a foto dele na internet. "Até hoje procuro em todos os lugares possíveis e impossíveis, e continuo indo para ver se encontro alguma pista. Mas nada." O pai, de quem vive separada, ajudou no começo. Mas logo desistiu.

"Essa dor é só nossa. Você acaba ficando sozinha e a dor acaba sendo só da mãe." Francisca se juntou as "Mães da Sé". Foi Ivanise que cuidou dela e a levou para um psiquiatra, que a ajuda a suportar a dor. As " Mães da Sé" também fornecem um advogado e ajudam na papelada com a policia e a prefeitura. Mesmo com a própria dor, Ivanise nunca deixa de consolar as outras, diz Francisca.

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Os órgãos públicos não dão a devida atenção a estes casos, reclama Ivanise. E pede a criação de um cadastro único para pessoas desaparecidas no Brasil. "Eu tenho vergonha de viver num país onde você tem um cadastro nacional de veículos roubados - mas não tem de pessoas desaparecidas."

As "Mães da Sé" já perderam cinco de seus membros, mortos pela dor. Ivanise também sofre de várias doenças, convive com fases de depressão, hipertensão e sobreviveu a dois infartos. "Isso te mata aos poucos." É a outra filha dela que a mantém viva. O marido fugiu dos problemas. "Homens não têm a estrutura para agüentar uma coisa dessa."

Ivanise e Francisca ainda têm esperança de um dia encontrar seus filhos. "Deus não pode me deixar morrer sem uma resposta. Mas meu coração de mãe me diz que minha filha está viva", diz Ivanise. "Eu prefiro acreditar que intuição de mãe não falha. E que Deus está preparando meu coração de mãe para quando esta hora chegar."

Texto + Fotos: Thomas Milz

Galeria de imagens

Caso você reconheça uma das pessoas desaparecidas, mande um e-mail para o Caiman ou entre em contato com as "Mães da Sé": maesdase@globo.com ou 0055-11-3337 3331

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