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“Qual é o número que multiplicado por ele mesmo dá 81:
A: 8
B: 9
C: 10
ou D: 5?”
A mulher se assusta. “Sempre fui péssima em matemática.”
Pediu as placas. Dessa vez se salvou. Mas para eliminar a vergonha, respondeu a próxima sem pensar.
“Tem certeza? Posso perguntar?” O sorriso de Silvio Santos brilha como sempre.
Acabou o sonho dela de ganhar R$ 50.000 para investi-lo na farmácia do marido.
Desde a estréia do programa “Show do milhão”, em 1999, ninguém chegou a ganhar o prêmio máximo de 1 milhão de reais. Foram seis que chegaram ao ponto de R$ 500.000. Enfrentando perguntas superdifíceis, optaram por desistir e embolsaram os R$ 500.000.
Até chegar Jair Hermínio da Silva, o homem-enciclopédia, professor aposentado de 57 anos, de Guaxupé, Minas Gerais. Superou, de maneira impressionante, as dezoito primeiras perguntas. Só faltou responder a última para ganhar o milhão.
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AA partir de R$ 50.000, as perguntas se tornam abacaxis. Mas Silvio Santos, para desafiar a fortuna, incluiu uma margem de 10% de perguntas fáceis. E o homem-enciclopédia pegou a mais fácil possível delas:
“Quantas letras contem a escrita da bandeira nacional brasileira:
A: 13
B: 15
C: 14
ou D: 16?”
Contou, sorriu e respondeu: “16”
“Perdemos tudo, Jair!” gritou a Zezé, amiga do Jair, sentada na platéia. Jair iria dividir com ela e mais outra amiga o prêmio.
“Como o senhor não se matou ainda” é o grito que acompanha o Jair desde aquele dia, “por que não se contentou com R$ 500.000?” Parece que foi a primeira resposta do “Show do milhão” que a nação inteira sabia. Está todo mundo com problemas de multiplicar, mas contar o número das letras de “Ordem e progresso” parece até fácil demais. São 15!
Será que o ex-professor de inglês e português não sabe contar? Ou será que o solteirão convicto confundiu o lema com o dilema do Brasil?
A resposta do Jair revela, na verdade, uma análise profundíssima da sociedade brasileira, acertando em só duas cifra a solução jamais encontrada pelos sociólogos brasileiros como Darcy Ribeiro, Fernando Henrique Cardoso ou Sérgio Buarque de Holanda, ao mesmo tempo acabando com as diversas teorias como a da Dependência; chegou perto da resposta por que o Brasil ainda não deu certo: Jair, o homem-enciclopédia, pensou que o lema do Brasil era “Ordem ou progresso”.
Será que não foi o Jair que errou, mas sim que toda a confusão deste país vem da escolha errada do seu lema, que fez a República brasileira se desviar durante os últimos 113 anos?
Graças a Deus que as opções de Silvio Santos não incluíam a possibilidade de “20”. Quem sabe Jair teria chegado à resposta de “Nem ordem, nem progresso”?
Texto + Fotos: Tom Milz
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