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América do Sul: Chupa-cabra na Terra do fogo

Na alvorada do século vinte e um, todas as promessas de um futuro melhor para os países da América Latina, feitas na década passada, parecem ter acabado. Um continente inteiro está pegando fogo, virou Terra do fogo. E quem tem a culpa dessa sacanagem? Quem é o chupa-cabra que chupa o sangue e todas as riquezas destes países? Uma viagem entre lenda e realidade cruel.

A realidade cruel: No começo dos anos 90, a promessa de um crescimento econômico, ao lado da nova restaurada democracia, foi feita na América do Sul, o neoliberalismo prometeu acabar com o subdesenvolvimento dos países sul-americanos; um mercado global, sem as ameaças de um mundo dividido entre comunismo e capitalismo, apareceu no horizonte. O que nunca falta neste mundo são promessas!

Uma década depois, a maioria dos pases da América do Sul encontra-se em crises econômicas e políticas, extremamente dependentes dos países ricos. A dívida externa esmaga e sufoca as economias, e a ajuda do FMI depende do dar-se bem com os países ricos, principalmente os Estados Unidos.

A lenda: O chupa-cabra é uma espécie de lobisomem, que aterroriza os chamados "países em desenvolvimento". Os primeiros casos aconteceram uns anos atrás, no México, em Porto Rico, na Turquia e na Ìndia. Finalmente, ele chegou a América do Sul!

De volta à realidade cruel: Mesmo que na maioria dos países a inflação tenha sido vencida, a taxa dos analfabetos caído e a democracia (ainda) está no poder, a situação recentemente piorou muito. Pelo menos, a massa dos pobres e desempregados agora sabe ler e tem o direito de votar. Belíssima ilusão de participar dos bens da sociedade, de ter algum tipo de influência. Na verdade, entre 70% e 80% da população não fazem parte dos mercados nacionais, não participam do processo econômico, ou apenas como mão-de-obra baratíssima, empregados por uma corrupta classe dirigente e uma pequena classe média apavorada.

A lenda, parte dois: Nos estados sulistas e do sudeste do Brasil, pequenos animais têm sido atacados e mortos. Galinhas, cabras, ovelhas e bezerros têm amanhecido mortos, sem sangue, sem os principais órgãos, estranhamente retirados por pequenos orifícios, e muitas vezes mutilados, sem orelhas, patas e focinhos.

A realidade cruel, mais uma vez: Foi essa classe média apavorada que, na Venezuela, tentou derrubar o populista eleito, Hugo Chavez, e deixou chegar o país a beira de uma guerra-civil. Dois meses depois do golpe falhado, rumores de um novo golpe circulam pelas ruas de Caracas. Já na Colômbia, essa guerra-civil é a realidade horrorosa há muitos anos, e parece que com o recém-eleito presidente, Alvaro Uribe, que prometeu dureza no combate aos guerrilheiros marxistas da FARC, as coisas não vão se acalmar. No Peru, violentos protestos contra a privatização de estatais de energia deixaram o governo decretar o estado de emergência em Arequipa.

Ao mesmo tempo, na Argentina, os protestos contra o governo Eduardo Duhalde continuaram enquanto a crise evapora as reservas do Banco Central na tentativa de segurar o sistema financeiro. Infectado pelo colapso argentino, o governo do Uruguai não conseguiu mais manter o câmbio fixo, enquanto o país vizinho, o Paraguai, vive ameaçado por um golpe liderado por um general, que, atualmente, se esconde no Brasil.

A lenda, parte três: O chupa-cabra ataca geralmente à noite, deixando poucos rastros. Ele domina suas vítimas sem vestígios de luta e não faz barulho. Ele prefere, geralmente, as ovelhas e cabritas prenhes.

A realidade cruel do Brasil: E parece que, três meses antes das eleições em outubro, a crise chegou no Brasil. Aqui, os sintomas de uma crise real se misturam com a propaganda eleitoral, e o papel das classes dirigentes norte-americanas nesse capitulo reprisado da história sul-americana é feio demais. Quanto mais o candidato do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, sobe nas pesquisas, tanto sobe o índice de risco-país, medido pela empresa financeira norte-americana J. P. Morgan. Brasil já chegou no segundo lugar, logo após da Argentina, e na frente de todas as ditaduras mais cruéis deste mundo.

As manchetes dos jornais da América Latina já estão proclamando o fim do "otimismo histórico". O que restou deste otimismo da década dos anos 90 é uma dívida externa imensa, uma distribuição de renda vergonhosa e uma desigualdade social ainda pior que antes. As empresas ex-estatais foram vendidas, e os lucros foram aspirados, nas diversas crises dos últimos anos, pelos mercados financeiros estrangeiros.

Quem é o chupa-cabra: O chupa-cabra é uma mistura entre ser humano e animal selvagem, segundo pessoas que sobreviverem ataques dele. Parece que não há remédio nem arma para matá-lo. Por isso, os países latinos americanos "necessitam" de se dar bem com o chupa-cabra. Para garantir a "continuidade política", social, e principalmente a estabilidade do empréstimo econômico. Coitados deles, que não desenvolveram métodos científicos capazes de alertá-los, pois a maior conquista e o poder de maior valor é a liberdade para conduzir os próprios interesses. Mas a maioria das pessoas se dá bem com a ameaça do chupa-cabra, vê o mundo através da televisão e reza para que uma força maior do chupa-cabra tenha piedade.

Será que os chupa-cabras um dia serão sugados?

Estamos na terra do fogo,cercados de chupa-cabras,envolvidos com chupa-sangue,e apaixonados por chuta-bolas.

Texto + Fotos: Thomas Milz e Thereza Cristina da Silva


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