[art_4] Venezuela: Bandeiras coloridas

Era uma vez uma menina louca por futebol. Amava demais a seleção do país dela, mas não conseguia vestir a camisa com as cores da sua pátria sem ter vontade de vomitar. Procurando por uma saída dessa saia justa, começou a andar pelo país, até encontrar um torcedor brasileiro, que estava deitado na grama, tomando sol.

"Querido torcedor brasileiro", disse a menina louca por futebol, "você tá com uma camisa tão bonita."

"São as cores do Brasil", o torcedor brasileiro respondeu.

Há o verde, a cor da selva amazônica, a cor da natureza exuberante, da primavera, tempo do crescimento de toda a vida. E no meio do verde, há o amarelo do sol brilhando. É, na nossa bandeira, um símbolo da sabedoria e do poder na sua mais pura forma. Um símbolo de criatividade e da mais alta arte de jogar futebol."

Entusiasmada com essa composição alegre de cores, a menina louca por cores seguiu seu caminho, até encontrar um torcedor mexicano. Ele estava sentado na sombra do nariz enorme de pedra de Quetzalcóatl, a "Serpente Emplumada".

"Querido tordedor mexicano", disse a menina louca por futebol, "você tá com uma camisa tão bonita. Qual o significado da águia?"

"Muito tempo atrás, o povo dos mexicas, também comhecido como astecas, deixou seu mítico lugar Azlán e seguiu para o sul. Liderado pelo cacife Huitzilopochtli, eles caminharam até receber um sinal divino: em cima de um cáctus, havia uma águia comendo uma serpente. Ao entender tal sinal divino, fundaram sua nova cidade neste lugar."

"Na minha cultura também temos a águia como símbolo nacional. Representa poder, persistência e visão", disse a menina louca por futebol.

"Para nos mexicanos, a águia é um símbolo do sol e da criação. O fundo branco representa a consciênca divina, a águia representa o mensageiro divino", disse o torcedor mexicano. Depois de uma pequena pausa, o mexicano acrescentou: "Quando inventaram a nossa bandeira, em 1821, o verde representava a independência da Espanha, o vermelho o sangue dos nossos soldados, mas também nossa união com a Europa."

A menina louca por futebol pensou sobre a fundação da Alemanha. Como ela também queria ter um mito de fundação tão lindo como o mexicano... Mas a história da fundação da Alemanha pelo chanceler Bismarck não oferecia nada de lindo. Pelo menos, os jogadores austríacos não fazem falta na seleção alemã, pensou a menina louca por futebol. Enquanto refletia sobre os mais recentes jogos da seleção austríaca, ela encontrou um torcedor venezuelano sentado na praia, olhando para o azul do mar.

"Oi torcedor venezuelano", disse a menina louca por futebol, já um pouco desesperada, "você está com uma camisa tão colorida. Bem que eu gostaria de ter uma igual, mas temo que depois ninguém vá perceber que eu torço pela seleção alemã."

"Ah, coitada", disse o torcedor venezuelano. "Que falta de sorte a sua! A combinação das cores preto-vermelho-ouro é o maior fracasso na história das bandeiras. Nenhuma outra bandeira machuca tanto o olhar estético. Preto é a cor dos velórios, e ouro é nada além de um amarelo sujo. O amarelo puro é desvalorizado, fica feio e manchado. Por que eles não perguntaram pessoas como Goethe, que, na sua nova teoria das cores, já tinha falado sobre o perigo de sujar a cor amarelo. Por que não pediram um conselho a ele na hora de escolher as cores?"

Quando o venezuelano olhou para a menina louca por futebol, viu que ela estava chorando. Ficou com pena dela, e tirou a própria camisa e a deu para ela vestí-la.

"Mostra sua cor, menina louca por futebol! Vai falar com sua chanceler, e lembra a ela dos seus deveres estéticos. Espero que as três cores primárias da nossa bandeira te ajudem: que o vermelho faça com que a racionalidade exagerada dela diminue e estimule a paixão e o desejo dela. Que o amarelo fortaleça a sabedoria dela e faça com que ela mude essa combinação de cores tão ultrapassada. E que o azul quebre a frieza emocional dela, abrindo espaço para todos os desejos não realizados."

Texto: Dirk Klaiber
Fotos: Dirk Klaiber / Thomas Milz