caiman.de julho 2002

Chapada Diamantina

O sonho:
"A natureza absoluta e pura! As cachoeiras feito chuva de estrelas que não cançam de descer sobre a terra! Os vales e as montanhas ecoando e recordando o som do vento e dos animais no coração da América e da Bahia, no Parque Nacional da Chapada da Diamantina."

A realidade:
Antes de seguir a viagem escutei em Salvador que lá chovia muito e que toda a gente que aí estava pra conhecer as cachoeiras de água límpida só viam águas turvas e muito barro! Pensei cá comigo: não pode ser verdade, deve ser esta gente que espera desta terra brasileira o céu sempre azul e o sol todos os dias. Doce ilusão deles porque aqui chove e é por isso que somos torcedores da seleção verde e amarela. Um pouquinho de chuva faz bem, logo logo quando eu chegar para de chover…

Doce ilusão:
foram dias e dias de pura aventura. Nossa viagem foi de ônibus de Salvador para Lençóis, a cidadezinha que oferece Pousadas e pequenos hotéis para os viajantes nesta região. Viajamos de noite, numa estrada que seguramente há anos não sabe o que é asfalto e nós dormimos “feito pipoca no óleo quente” durante mais de 6 horas.

Ainda era escura a noite quando chegamos. Decidimos seguir viagem para uma cidade menos turística chamada Capão, onde estariam as cachoeiras mais maravilhosas da região. Para chegar lá só de carro, não existe ônibus … Com sorte encontramos um guia que nos levaria até Capao cobrando 10 reais por pessoa, uma viagem de mais duas horas. Muito bem, decidimos que sim, e com a gente estavam mais 2 outros viajantes, eramos 6 pessoas num Jipe que percorreria 2 horas de estradas de terra que era barro, verde que era escuro, e a natureza sempre natureza….

E eu ali a buscar inspiração numa canção de Raul Seixas:
"É você se se olhar no espelho se sentir um grande idiota, saber que é humano, ridículo, limitado, que so usa 10% de sua cabeca animal, e depois acredita ser um doutor, padre ou polocial, contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social… eu é que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar…"

Aventura pura, senti estar num destes rallys que apresentam na televisão fazendo propaganda pra cigarro… que ideia! Bem que um cigarro cairia bem… estava tão cansada que ja não sabia se era dia, noite, pipoca, cigarro, Marlboro ou Camel Lights…e o sol se escondia pra mais tarde dar risadas de nós…

Chegamos no vilarejo de Capão que estava longe de tudo, só verde, muita água, um lugar pra se acampar e viver feito índio nesta pousada da natureza. Mas como ser índio sem um manual de instruções? Minutos pra pensar e ver que tudo o que queriamos era uma cama. Ficar aí? Não, decidimos ao chegar que voltariamos pra Lençóis, umas duas horas mais de rally e estariamos de volta a civilização.

De volta a Lençóis encontramos uma pousada e aí estivemos por três dias, sobrevivendo entre quatro paredes com nossos sonhos. Três dias de sono, um dia de sol, três dias de insolação, umas frutas tropicais e uma semana de diarréia.

Nao faz mal, deve ser um ritual de limpeza do corpo e da alma, nada como fazer parte da natureza e saber que Deus escreve certo por linhas tortas (dizia meu pai).

Hora de seguir viagem !

Escrevo para recordar:
Ri-cordis (do Latin), Ri: tornar, voltar / Cordis: Coração … Voltar, tornar a passar pelo coração, pra contar que bom que é ser viajante, par, parceiro desta natureza icontrolável, este desejo de sentir a natureza absoluta e pura em todo e qualquer lugar.

Onde mora o paraíso?

Visite a Chapada da Dimantina… com dias de sol!


Texto: Cristina Poli