caiman.de julho 2002

O eterno Lula

Pela quarta vez, Luiz Inácio Lula da Silva é candidato à presidência, pelo Partido dos Trabalhadores, e, como sempre, lidera as pesquisas. Normalmente, ele sai bem na frente dos outros, e, normalmente, ele perde no segundo turno, finalmente.

Nas primeiras eleições direitas pela presidência depois da ditadura militar, no fim da década dos anos oitenta, Lula perdeu no último momento de Fernando Collor, o maior desastre da história presidencial brasileira.

Perdeu em 1994 e 98 contra Fernando Henrique Cardoso, cujo sucessor predileto, José "Moto"-Serra, no momento está com 20%, enquanto Lula tem o dobro. Desta vez vai dar certo, ele realmente pode ganhar, pensam os petistas. Não parece mais aquele socialista horroroso dos anos oitenta, que queria, como dizem seus inimigos, colocar os pobres nordestinos nas salas de estar da classe média.

Bom, ainda tem aqueles burgueses apavorados que acreditam nisso. Falando nisso, eles também acreditam que não foi um acidente de trabalho que cortou os dedos do Lula, mas um castigo árabe para o ladrão Lula, roubando a classe média. A mídia mostra mais o moderado Lula, envelhecido na oposição.

Mas os internacionais poderes do mundo financeiro parecem ter feito um pacto contra Lula. A empresa financeira norte-americana J. P. Morgan aumentou, depois da subida de Lula nas pesquisas, o risco-país do Brasil e provocou assim um terremoto na economia brasileira. Por isso, o ocidental-democrático-pacífico Brasil está no chão e no segundo lugar no ranking dos países com maior risco de investimento. Só a Argentina está um pouco mais a frente. Assim, com um pouco de ajuda, vão se realizar as "profecias auto-relizantes".

A mensagem é clara: melhor investir num dos países africanos de uma ditadura cruel ou num país asiático comunista do que num Brasil governado pelo PT. As coisas mudam tão rápidamente neste belíssimo mundo azul globalizado.

O argumento mais comum é aquele que Lula nunca governou nada na sua vida, e, por isso, não tem nenhuma experiência, nem no roubo nem no governo. Em geral, o Zé da rua não gosta que um da classe e do nível dele chegue "lá em cima": "Ele é tão burro como eu, então, por que eu não posso ser presidente?". Fica mais fácil aceitar a ordem eterna das coisas e votar num doutor ou num fulano de nome nobre. Ou num cara que já roubou bastante. "Puxa, aquele pelo menos sabe como é que se fica rico. E já roubou bastante. Assim deve sobrar uma grana pra gente."

Bom então, quem vai, finalmente, votar no Lula? Com toda certeza os estudantes , filhos da classe média, que querem dar um choque nos pais deles e colam uma propaganda do PT no seu VW Gol (pago pelo pai). Mais eles vão ser suficientes?

Quase todos os brasileiros concordam na convicção de que o Lula não é o homem mais inteligente. Ao contrário de Fernando Henrique Cardoso, que fala todas as línguas deste mundo e estudou ou foi professor em 150 países, o Lula ainda luta contra a própria língua, presa e maternal. Lula, o eterno segundo colocado, símbolo amado de toda essa gente, que também nunca conseguiu nada na suas vidas.

E assim, todos estão rindo do Luiz Inácio Lula da Silva; aqueles lá em baixo, para desviar a atenção da própria insuficiência, e aqueles lá em cima, pois eles sabem que nunca vai mudar nada. Só na gargalhada da eternamente medrosa classe média dá pra ouvir uma tossinha nervosa: E se, porem, um dia os nordestinos começam a acampar em nossos jardins?

Texto: Tom Milz