caiman.de junho/2002

O sacoplásticodesupermercado
Esse herói topa qualquer coisa

„Que saco!“. Esse negócio está demorando muito. Cada coisinha num novo saquiinho. Cada um deles em média com sete litros de volume, 30 centímetros de altura, 25 centímetros de largura no fundo e 35 centímetros na boca.
Cuidado com as folhas do abacaxi, pois elas cortam as alças rapidinho. Flutsh, cabuuum. Às vezes basta uma garrafa de dois litros de Coca-Cola Light. Apesar de conter apenas nove calorias, a garrafa tem peso demais para a fraquinha sacolinha de plástico. Sempre desconfiei – basta engolir um mosquito e já vai umas 50 calorias. Mas uma garrafa de dois litros de Coca-Cola Light só tem 9 calorias! Brincadeira. Por segurança, a moça do caixa coloca mais dois sacos. O seguro morreu de velho. „Sacoplásticodesupermercadoparamelhorsegurança“. „Segundosacoplásticodesupermercadoparamelhorsegurança“ (em alemão pode se fazer essas palavras compridíssimas. Legal, hein?). O pacote de oito rolos de papel higiênico também provoca problemas, pois ele mede o dobro do saco. Então, um de cada lado e mais um em cima de tudo para poder carregar direitinho.

No Brasil, o „saco“ tem diversas funções e significados. Às vezes o puxam, ou alguém simplesmente enche muito seu saco. Num dia você tá com o saco na lua, noutro alguém está torrando seu saco. E quem é que nunca disse „ai, que saco“, quando uma pessoa sacal cruza o caminho?

Tipo o cara na minha frente e a cúmplice dele, a moça do caixa. Cada coisinha não só em um novo saco, mas pelo menos em três. Ele hesita com o desodorante, mas finalmente decide tirar do saco com o leite e o coloca num outro saco ainda vazio. “Melhor separar, para que o leite não cheire!”
Quando ele sai com seu carrinho de supermercado atulhado de uns 150 sacos, me pergunto o que ele vai fazer com todos eles depois de ter tirado as compras. Um „sacoplásticodesupermercado” vai ser reaproveitado na lixeira, virando assim “sacoplásticodelixo”. Outro vai pro banheiro, para jogar o papel nele, como „sacoplásticodepapelhigiênico”. Quando estiver cheio, feche as alças com um nó, e coloque os sacos na porta para que a faxinheira os leve pra rua.
E assim, cada manhã, milhões de pequenos „sacoplásticosdesupermercadoenchidosdelixoepapel-higiênico“ estão nas ruas do Brasil, esperando o carro de lixo. Depois eles esperam mais uns 250 anos para se decompor. No futuro, talvez vão ser a única coisa a restar da nossa „geraçãosacoplásticoesopadesaquinho“. Um montão de sacos, com conteúdos diferentes.

E aí chega o europeu, conscientemente envolvido na defesa ambiental. A moça do caixa começa a colocar tudo nos sacos, e a “assistente”, voando nos patins pelo supermercado, acaba de deixar mais um monte de “reservadesacoplásticodesupermercado” no caixa. “Aha! Me aguardem. Eu vou mostrar a vocês como funciona!”, penso com meus botões, e me sinto como Paul McCartney pouco antes do lançamento de “Sgt. Pepper”.

„Não, de jeito nenhum! Não coloque tudo nestes saquinhos, chega de lixo neste mundo. Estes sacos ainda vão dar dor de cabeça até nos seus bisbisbisnetos!“ „Sacoplásticodesupermercadoquedádordecabeçanosbisbisbisnetos" ! ! !
"Eu trouxe a minha mochila“ e já começo a colocar tudo nela. „Até é muito mais confortável carregar tudo nas costas“ explico para a mulher esperando na fila atrás de mim.
E essa certeza de pertencer a um nível mais elevado, mais civilizado do ser humano não se desfaz nem mesmo com a nova forma do pão integral, adquirida no fundo da mochila, prensado que foi, no caminho pra casa, por um monte de coisas pesadas, colocadas em cima. Meu pão se transformou numa coisa bem comprimida, mais parecida com uma caixa de CD. E também não acho tão ruim que os novos livros agora têm o mesmo cheiro do meu xampu, que se espalhou à vontade dentro da mochila. A partir de agora, cada ducha me faz lembrar desses livros maravilhosos. (Do mesmo jeito que, cada vez que eu como mostarda, me lembro da música „In the ghetto“, de Elvis. Antigamente gostava de comer salsicha com mostarda ouvindo música, e um dia estava escutando Elvis, quando a mostarda caiu e sujou a capa do disco „Cloud Nine“, de George Harrison. Desde então, sempre que escuto uma música deste disco, sinto uma vontade repentina de comer salsicha com mostarda e ouvir Elvis. Ou quando como uma salsicha, tenho saudade daquele disco de George Harrison! São estas associações de lembranças que dão sentido a nossas vidas, não é?)
Aliás, por falta de saco de plástico, coloquei o lixo numa caixa de sapato e joguei o papel higiênico no vaso sanitário, provocando assim um entupimento colossal.

Graças a Deus que me lembrei de uma outra virtude européia, o princípio de que um estrangeiro deve se adaptar ao país onde ele está, e por conseguinte, aos costumes e hábitos das pessoas do lugar. Lógico que ainda tenho uma profundíssima consciência ambiental. Sei que não é bom usar tantos sacos de plástico. Mas europeu civilizado deve saber quando chega nos seus limites e saber também calar a boca. Em nome do entendimento global das nações.

Dogmatismo, por princípio, não entra no meu saco.
Chega do “princípiodogmáticoderesistênciaaosacoplásticodesupermercado”!

Thomas Milz

Anna Carolina, muito obrigado pelas fotos!