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Brasil: A maior festa do planeta
Notícias do Sambódromo

Para quem já viveu as emoções, sons e cores do carnaval do Rio de Janeiro, fica claro que é a maior festa do planeta. Mas enquanto dirigentes e desfilantes das escolas de samba investiram muito dinheiro e esforço nas suas apresentações, para outros o carnaval é, em primeiro lugar, uma ótima oportunidade para aparecer nas manchetes. Políticos, donos de grandes empresas, estrelas de televisão, estrelinhas e as Darlenes Quaisquers se juntam para por a cara ou outras partes do corpo na mídia.

Para muitos jornalistas, a decepção começa logo na entrada do Sambódromo. Quem não tiver um bom vínculo com a TV Globo, a emissora mais potente do Brasil, ou não pagou milhares de dólares para tirar fotos na avenida, não entra e fica de fora, na área de concentração, onde as escolas de samba se preparam para o desfile. À essa área pertencem partes da Avenida Presidente Vargas, que passa em frente do Sambódromo, e a entrada para a pista. Na planta oficial do Sambódromo, os primeiros dois setores da avenida com suas tribunas íngremes também fazem parte da área de concentração.

Aqui é o melhor lugar para tirar fotos, pois aqueles grupos de desfilantes recém-entrados têm que esperar os grupos na frente avançarem mais. Mas essa área está interditada para os jornalistas comuns - os seguranças não deixam ninguém sem o credenciamento de livre trânsito passar. Há até brigas feias: seis seguranças tirando um fotógrafo da área fechada.


Para as escolas de samba, não há nada tão prestigioso como a vitoria no "Grupo Especial" das quatorze melhores escolas, que, no domingo e na segunda-feira, apresentam, em dois grupos de sete escolas cada um, seus desfiles no Sambódromo. Suposto que eram os fotógrafos que, nos últimos anos, incomodavam os desfilantes das escolas. E, claro, não os famosos bicões que enchem a pista e causam caos: amiginhos e namoradinhas do pessoal da TV Globo, parentes de políticos ou amigos dos patrocinadores, como os da Coca-Cola ou da Brahma.

O presidente da "Liga Independente das Escolas de Samba" (LIESA), Aílton Guimarães Jorge, defende a política de cortar os credenciamentos para os jornalistas, mas não para os bambambans: "Não é um desfile militar. O povo gosta de mulheres bonitas e gente famosa. Se tirar os jornalistas da pista, não tem 80, cem pessoas."

Aos impressionantes desfiles das escolas, com suas baterias vibrantes e os carros alegóricos de todas as cores, se juntaram os famosos espectadores. O prefeito do Rio, Cesar Maia, que mereçe bem seu primeiro nome, dançou na avenida com a Salgueiro, sem mostrar muito esforço – nem vestiu uma fantasia da escola. Mas ficou irritado com o grande número de bicões, que fizeram a mesma coisa como ele – se juntar aos desfiles.

Entre eles, seu próprio filho com a namorada. Rodrigo, o Maia Júnior, deputado federal em Brasília, se defendeu: "Sou um deputado federal que defende os interesses do Rio em Brasília." E a irmã do prefeito, Ana Maria Maia, é a presidente da Riotur, empresa responsável pelo credenciamento no Sambódromo.

Os Bambambans entram nos camarotes superchiques sem pagar nada, para aproveitar da comida maravilhosa e assistir aos desfiles de um ponto de vista previlegiado, enquanto os muitos turistas de fora pagam até 2.500 Reais para uma vaga ao lado da pista. Esperava-se um bom negócio dos passageiros do navío superluxo Queen Mary II., que tinha chegado ao Rio na madrugada de sábado. Mas ao contrário dos esperados 600 sanduíches, eles, na maioria norteamericanos, degustaram apenas 130. Que decepção! Ainda mais porque tinha sido necessário aumentar a profundidade do porto do Rio para a chegada do maior navio do mundo. E agora isso.



Enquanto isso, a camada mais pobre da cidade procura um lugar ao lado do Sambódromo para assistir aos desfiles de graça. Posicionam-se em cima de pontes e nas margens do rios fedorentos, perto da arena. De lá, dá para ver muita mulher com pouca roupa, entre elas estrelas da TV Globo, como Débora Secco, Juliana Paes e "a rainha dos baixinhos", a Xuxa. E as Darlenes Quaisquers, prontas para subir para a liga dos grandes astros.

Ah, também, aquelas querendo se salvar de serem esquecidas. A acessoria delas tenta tudo para colocá-las na frente de qualquer coisa, seja isso uma câmeras de televisão ou um carro alegórico de uma escola de samba. Fala-se que uma ex-participante do Big Brother Brasil se ofereceu desesperadamente para desfilar nua na avenida. Nenhuma escola aceitou proposta tão indecente.

Grande foi o oba-oba da mídia quando Débora Secco, a nova estrela da novela das oito, abriu o desfile da Grande Rio, entrando na avenida "para só mostrar a bela plástica na hora certa... Mas, no quesito samba no pé, Deborah não empolgou a platéia.…" "Na Avenida o rebolado também é fundamental…" criticou um jornal no dia seguinte.

Num fracasso enorme se transformou o desfile da apresentadora Xuxa. A escola Caprichosos de Pilares apresentou uma homenagem à loira quarentona, descrevendo sua trajetória pela televisão e cinema. Tinha muitas crianças de pele escura com peruca loira e fantasias tipo papel-de-chiclete super-kitsch, cantando alto "Xuxa eu te amo, eu te amo, meu amor". E quando Xuxa subiu no seu carro alegórico, causou tumultos e caos no desfile da escola. A escola da apresentadora, que apareceu no Sambódromo protegida por quarenta seguranças e cercada de inúmeros fotógrafos, quase foi rebaixada pelo jurí: terminou o carnaval no penúltimo lugar. Ficou aberta a pergunta de quem era a idéia de fazer uma homenagem à Xuxa, da escola ou da própria apresentadora. Como, também, a pergunta de onde saiu o dinheiro para colocar esse desfile caríssimo na rua. Se saiu do bolso da escola ou de Xuxa, foi mantido segredo.

Um outro caso bem interessante é o de Ângela Bismarchi. No carnaval de 2000, ficou famosa por ter aparecida com a bandeira do Brasil pintada no corpo nu.

Um ano antes, ela tinha se casada com o cirurgião plástico Ox Bismarchi, que fez uma recauchutagem geral no corpo dela: fez furinho no queixo, colocou implantes faciais, pôs sillicone nos lábios, nos peitos, aumentou a panturrilha com bioplastic, além de lipoaspirações no abdômen e nos culotes, das unhas de porcelana, megahair e lentes de contato.


"Esta semana, pensando no carnaval, coloquei mais um pouco de botox na testa. E recentemente pus 355 mililitros de sillicone. A mídia é que corre atrás de mim por causa da extrema beleza que eu tenho" diz Ângela, cujo marido foi assassinado há dois anos. Desde então, ela briga com a família dele pela herança. Para ela, o carnaval é a época para faturar. Para isso, prepara se o ano inteiro.

Mas há, também, outras pessoas que passam o ano inteiro se preparando para o grande momento. Na área de concentração, os desfilantes das escolas esperam sua vez. Nervosíssimos, aguardam o toque da sirene, que pede a preparação para desfilar. Muitos dos desfilantes pagaram até 400 Reais pela fantasia. Assim, compreendem-se as lágrimas do menino que se atrasou e não conseguiu mais participar do desfile.

Enquanto isso, as últimas preparações são feitas. É colocado óleo no corpo escultural de uma Rainha de bateria. Depois um pó brilhante.

Que objeto maravilhoso para os fotógrafos, que seguem cada movimento da menina com suas máquinas. "Eu não acredito nisso!" ela reclama, mas não adianta. O bumbum dela, enfeitado com um "rabo de onça", vira o objeto mais fotografado da noite.

Nos últimos dias, grandes polêmicas foram causadas pela escola Grande Rio e pelo seu diretor artístico, o carnevalesco Joãosinho Trinta. Ele foi campeão do carnaval do Rio já oito vezes, a maioria deles conquistados nos anos setenta. Sua última vitória foi em 1997, com a Viradouro. O grande talento do Joãosinho é produzir manchetes. O desfile atual da escola, "Vamos vestir a camisinha, meu amor", causou fortes protestos da Igreja Católica e de juizes de menores, que se preocupavam com as cenas de sexo nos carros alegorícos da escola.

Uma coisa bem parecida aconteceu com Joãosinho em 1989, com sua produção sobre a pobreza e a miséria no Rio. Naquele desfile, colocou prostitutas, mendigos, crianças de rua e loucos na avenida.


Na época, Joãosinho cobriu as figuras mais chocantes com um plástico preto com a frase "Mesmo proibido, olhai por nós". Em 2004, ele copiou a si mesmo, cobrindo as figuras do Kama Sutra e colocando a faixa "Censurado". Mas desta vez, o que era para fazer propaganda para o desfile, deu completamente errado.

A Grande Rio terminou em décimo lugar, e, ainda durante a apuração, Joãosinho foi demitido. Hélio Ribeiro de Oliveira, presidente da escola, explicou "Ele não chegava aonde a gente queria, um enredo mais sério e mais social.

Teve também a briga com a Igreja Católica que ele levou para dentro da escola, com promotor e tudo no barracão... O problema do Joãosinho foi muita conversa e pouco carnaval."

Para definir quem ganhou e quem perdeu, existem dez quesitos como, por exemplo, a bateria, a harmonia, a evolução e as fantasias, com quatro julgadores para cada um quesito. O tempo total do desfile deveria durar entre 65 e 80 minutos, para não perderem pontos.

Mas ficou claro que os 40 julgadores, responsáveis por dar notas entre 7,0 e 10 a cada agremiação, julgaram mais a parte técnica do desfile e não se davam conta se o desfile tinha conseguido empolgar o público no Sambódromo.

Finalmente, a Beija-Flor conseguiu defender, com seu apelo pela preservação da Amazônia "Manôa – Manaus – Amazônia – Terra Santa... Que alimenta o corpo, equilibra a alma e transmite a paz", seu título do ano passado.

Muitas pessoas não entenderam por que a Beija-Flor quase só conseguiu notas máximas, pois o desfile foi atrapalhado pela chuva forte. Até um carro alegórico quebrou e ficou na concentração, ainda antes da entrada no Sambódromo.


Seja como for, vamos dar os nossos parabéns para a Beija-Flor e seu diretor Zico, herói do futebol brasileiro, e para todos as outras estrelas e Darlenes Quaisquers deste carnaval, que conseguiram aparecer nas manchetes das revistas e na mídia. Até o ano que vêm. Mesmo lugar, mesmo jogo, mais oportunidades para todos.

Texto + Fotos: Thomas Milz print version 

Muito mais fotos encontram-se na nossa galeria de fotos.


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