caiman.de 06/2003

Brasil: Um elevador brasileiro

8 andares, 15 apartamentos, área residencial bem barulhenta no centro de São Paulo, carros buzinando e Samba ao vivo durante a noite. Ainda bem que há um elevador, que eleva a gente, depois de um dia estressado na selva de pedras, até o sétimo andar, onde se encontra nosso apartamento. Pelo menos ele faz isso enquanto não está com defeito. Funciona, teoricamente, de uma forma bem simples: é só abrir a porta, fechar a porta, apertar o botão com o número sete. Vinte e quatro segundos depois, a porta se abre novamente e – voilá, chegamos. Pronto!

Como é possível entrar nessa jóia da civilidade dessa forma tão inocente, como se fosse nada especial? Não deveria ter regras, como em todos os outros lugares deste mundo tão complexo e complicado? Regras que possibilitassem,sem atrito, o processamento de subida e descida vertical?

Pois já levei várias vezes um susto enorme dentro do nosso elevador. Saímos do meu apartamento no sétimo andar, entramos no elevador e eu, com a cabeça nas nuvens, aperto o botão, esperando alguma coisa acontecer. As portas se fecham, mas o elevador não se mexe. Nada! "Estamos presos?", é a pergunta assustada nestes momentos, e a resposta é sempre: "Tom, você apertou T de térreo ou, como sempre, o 7?" Bom, acontece tantas vezes comigo. Aperto T quando acabo de entrar no térreo, e 7 quando, na verdade, quero descer do sétimo. Aqui uma pequena placa com a dica "Aperte o destino e não a posição atual" seria de grande ajuda.

De repente, descubro as placas, ao lado esquerdo do elevador: "Em caso de incêndio, não utilize o elevador, use as escadas." Okay, isso é bem razoável. Só acho errado que esta placa se encontra no térreo. Em caso de incêndio ninguém deveria, de qualquer jeito, subir para os apartamentos, não é!? Mas imagine o prédio pegando fogo, as pessoas no térreo lendo a placa e com o aviso , as pessoas ficariam confusas e usariam as escadas para subir e encontrar a morte lá em cima. Não seria mais razoável uma placa dizendo mais ou menos o següinte: "Em caso de incêndio, não se deve, de jeito algum, subir para seu apartamento, mas ir diretamente para a porta do prédio e sair. E evite correr pra lá e pra cá pelos corredores e escadas. Se você se encontrar em cima, é aconselhável descer pelas escadas, e não utilizar o elevador!" Hm, bom.....

Mas a segunda placa é fogo, viu: "Atenção!", está escrito, "É vedada, sob pena de multa, qualquer forma de discriminação em virtude de raça, sexo, cor, origem, condição social, idade, porte ou presença de deficiência e doença não contagiosa por contato social no acesso aos elevadores deste edifício." Ainda impressionado com esse resumo perfeito de todas as encarnações possíveis da natureza humana, entitulado de forma tão humilde como "Lei Municipal 11.995 – 16/11/95", enfrento, inesperadamente, a terceira placa com a "Lei municipal n° 12.722 de 4 de Setembro de 1.998": "Aviso aos passageiros: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar!"

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Depois desse choque e boquiaberto, entro no elevador. Uma placa avisa que é proibido fumar nele. Tudo bem. Óbvio. "Lotação 08 Passageiros – Cap. Lic. 560 kg 08 pessoas", que significa uma média de 70 quilos por pessoa.Bom, estou um pouco acima disso, mas não tem problema. Um papel está colado na parede do elevador: a administradora do prédio informa que é proibido, sob pena civil e criminal, o uso de botijões de gás para cozinhar. Bom, ninguém se importa com isso ("A partir de agora, a gente deve cozinhar à lenha?" pergunta meu vizinho). Mas, de repente, descubro mais uma placa que exige nossa "Atenção": "Para evitar acidentes neste elevador, obedeça e exija o cumprimento das seguintes normas: O número de passageiros ou a quantidade de carga transportados no elevador não pode ultrapassar os limites indicados pelo fabricante." Bom, para isso já tinha a outra placa da lotação máxima. Mas vamos em frente.

"Só pessoas ou empresas credenciadas podem fazer os reparos do elevador." Acho legal, nenhum aventureiro fazendo bico deve mexer com a segurança da minha vida. "O Relatório de Inspeção Anual (RIA), elaborado pela empresa que faz a manutenção do elevador, deve ser afixado no quadro de avisos da portaria." Procurei por ele em vão lá embaixo.

Quase que perdi a frase mais importante: "Os menores de 10 anos não podem andar no elevador desacompanhados. A criança não tem altura ou discernimento suficiente para acionar o botão de alarme em caso de emergência."

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Fico, novamente, de boca aberta. Mas, pensando bem, isso é um dilema. É só colocar o botão mais pra baixo para que as crianças possam alcançá-lo. Mas, claro que elas vão brincar com ele e, assim, causar alarme falso. Por isso, tem que colocar o botão mais pra cima, só que nesta altura as crianças não teriam chance de alcançá-lo.... Bom, parece um abacaxi para os órgãos legislativos. Só resta rezar para que, até eu ter crianças, eles consigam resolver isso.

Hoje de manhã ouvi no rádio que a prefeita de São Paulo quer criar uma taxa de elevador.

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Bom, no futuro vou subir a pé. Mais saudável. E menos complicado.

Texto: Thomas Milz