[art_4] Brasil: As loucuras do futebol brasileiro

Quando o dia desenlaça o sol e ele desaparece atrás das montanhas da Serra do Mar, a praia se veste de uma meia-luz amarela e cinza e o vento, vindo do mar, leva o calor do dia embora, quando os últimos crentes da religião da luz partem para seus hotéis, eles entram em ação, entram na arena de areia sem platéia, para executar um ritual bem conhecido: um jogo de futebol no final do dia, sem sapato ou camisa, dois gols feitos de paus. Longe da loucura organizada do “Big Business Futebol”, que aqui, no Brasil, tem vida de novela.

No país do pentacampeão, há, no momento, muita confusão em torno da pequena bola. Algumas semanas atrás, a morte do zagueiro Serginho, do São Caetano, deu um choque à nação dos chuteiras.

Durante o jogo com o time do São Paulo, Serginho morreu no campo, depois de sofrer uma parada cardiorrespiratória. Agora, o presidente e o médico do clube serão indiciados por homicídio, pois escalaram Serginho mesmo sabendo dos problemas de saúde dele.

Além disso, o clube, que na atual classificação está no quarto lugar, com chances de se classificar para a Copa Libertadores ou de até ganhar o campeonato, provavelmente será punido com a perda dos pontos, que ganhou com o zagueiro Serginho em campo. Com a perda de vinte e quatro pontos, o clube desceria para a décima quarta posição. Bem felizes com isso ficariam, com certeza, os clubes de Palmeirs e Goiás,que, na atual classificação, estão atrás do São Caetano e, de repente, teriam uma chance para se classificar para a Libertadores.

Pouco depois do choque com a morte de Serginho, a mãe do fenômeno Robinho, estrela do Santos Futebol Clube, foi seqüestrada num churrasco na Baixada Santista. Enquanto todo mundo estava esperando a libertação dela, saiu a notícia de que Robinho fechou com o Real Madri, por cinco anos e doze milhões de Euros. O anúncio oficial só seria feito depois da libertação da mãe, anunciou um jornal, inoficialmente. Se os seqüestradores já tenham ouvido a boa notícia e já tenham aumentado o resgate, não se sabe. Robinho desmentiu, logo depois, a notícia, dizendo que não tinha nada a ver e que não tinha fechado com o Real.




O ano de 2004 não tem sido um ano de muitos sucessos para os times brasileiros. Na Copa Libertadores, nenhum deles chegou longe, e no campeonato brasileiro alguns dos times mais tradicionais correm risco de rebaixamento: Grêmio, Atlético Minas Gerais, Flamengo, Botafogo e até Vasco da Gama estão ameaçados. E a seleção, repleta de craques dos melhores clubes do mundo, perdeu seu último jogo do ano contra a do Equador, pelas eliminatórias da Copa de 2006. Mas mesmo com essa derrota, o time já está quase classificado para o torneio na Alemanha.

A estrela do momento é Ronaldinho Gaúcho, que, com seu time Barcelona, joga o melhor futebol do mundo. Para os colegas da seleção, que jogam no Real Madri ou em Milão, só resta aplaudir. Quem não sai das manchetes é Ronaldo, que anunciou, em setembro, seu casamento com Daniela Cicarelli, apresentadora da MTV, para a primeira semana de janeiro. Desde então, ele já mudou a data duas vezes, e o casamento está, atualmente, marcado para os meados de fevereiro. Há boatos de que perdeu a coragem, e colegas falam que o celular do Ronaldo não pára mais de tocar. Daniela liga a cada minuto para saber por onde o noivo anda, seja na cabine pouco antes do jogo ou logo depois de Ronaldo ter deixado o campo. Nunca um zagueiro tinha conseguido grudar tanto no pé dele como Daniela, falam os jornais. Será que ele agüenta?

Apenas umas semanas atrás, Ronaldo e Daniela foram vistos numa loja em Roma, onde compraram o vestido de casamento. O rosto da Daniela parecia bem inchado. Segundo ela, os dois foram para uma missa com o papa, e Daniela chorou tantou que ficou de rosto deformado. Há boatos falando que ela andou aplicando botox no rosto.

Quem encenou uma novela real, foram os diretores de Corinthians São Paulo, bicampeão mundial. Há tempo que o clube estava na procura de um parceiro potente para sair da crise financeira.

E parece que o acharam: assinaram um contrato de dez anos com o iraniano Kia Joorabchian, representante do fundo de invetimentos MSI - Media Sports Investments. O clube receberá 35 milhões de dólares. Em troco, o MSI passa a ser o poder decissivo corintiano e ficará com 80 por cento do lucro. Numa reunião caótica do Conselho Deliberativo do Corinthians, com a polícia tirando torcedores que tinham invadido a sala, a parceria foi aprovada. Mas os oposicionistas não querem conceder. Houve um dissenso sobre se a votação realmente apurou a parceria ou não. Por isso, os oposicionista vão entrar na justiça.

Enquanto isso, na praia escureceu completamente. Como os jogadores ainda conseguem chutar a bola, é segredo deles. Eles pulam atrás da bola, que voa em direção ao mar. Dança nas ondas, iluminado pelo luar. Ao mesmo tempo em Madri, Ronaldo joga o celular dele no vaso sanitário, dá três vezes a descarga e se lembra, com saudades, dos bons e velhos tempos, quando futebol não passava de ser apenas um simples jogo.

Últimas notícias: 1.) Corinthians São Paulo, já em parceria com a MSI, fechou com o atacante argentino Carlos Tevez, do Boca Juniors Buenos Aires. O valor é de US$ 22 milhões. 2.) O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) quer tirar 180 pontos do São Caetano pelos 30 jogos com o zagueiro Serginho, que morreu em campo no dia 27 de outubro. A consequência seria o rebaixamento do clube para a Séria B.

Text + Fotos: Thomas Milz

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