caiman.de 10/2006

[art_4] Brasil: As cortesias da vida
Como entrar nas nobrezas cariocas

Só queríamos tomar uns chopps para matar a sede. Era tarde, já meia noite. Quer dizer, tarde para os cariocas, povo que acorda cedo para apreciar a praia antes de partir pro trabalho. Para alguém que vive em São Paulo, onde as noites começam apenas DEPOIS da meia noite, não dá pra entender os cariocas. Mas tudo bem. Nem toquei neste assunto, para não chatear a companheira carioca.



A vista é fantástica, pelo menos. A Praia Vermelha oferece um cenário espetacular, com o Morro da Urca e o Morro do Pão de Açúcar a nossa frente. Pescadores tentam sua sorte em baixo da iluminação quase amarela dos arredores praianos.

Conseguimos tomar apenas quatro chopps, dois cada um. Pois logo veio o garçom e jogou a conta na nossa mesa. "Por que você não avisou que vai fechar o bar - queríamos tomar pelo menos umas saideras..."



O garçom se desculpe formalmente, mas não mostra nenhuma piedade com a gente. "Sinto muito, mas já fechamos." Meia noite e meia... O Rio de Janeiro é uma cidade decente, de muita história, e fora da época de carnaval, seus habitantes sabem se comportar. Nada de farra...

Enquanto nós secamos no meio do bar, a turma do lado recebe um chopp atrás do outro. Chamamos o garçom, que explica: "A conta dessa mesa foi bem maior que a sua, por isso fizemos uma excessão. É a nossa política de tratar bem nossos melhores clientes." E nós não fazemos parte, obviamente.



Era hora de jogar uma bomba nesse bar, penso. Mas a carioca promete dar “um jeitinho” para conseguimos mais uns chopps e chama o gerente. Uma meia hora depois, o chamado finalmente aparece.

Depois de longas explicações, o garçom finalmente traz mais dois copos, com metade espuma. Quero pagá-los, mas ele não aceita. "É por conta da casa. Cortesia!" O Rio de Janeiro é um lugar de nobreza, e parece que finalmente entramos nesse circulo tão fechado. Que honra.



Isso é o lado bom do Brasil, não é? Se você tem para gastar, ainda ganha uma cortesia. Quanto mais você tem, mais é honrado com atenção especial. E basta reclamar para entrar na roda.

Aleluia!

Texto + Fotos: Thomas Milz