caiman.de 05/2006

[art_4] Brasil: Chuva no paraíso

Sempre faz sol no paraíso. E não poderia ser diferente, certo? Férias significam céu azul durante o dia. E pequenas nuvens ao pôr-do-sol, pintando o céu em cor-de-laranja. De mãos dadas, olhando para o horizonte. Os pensamentos românticos voando pela cabeça. Sonhos de um futuro lindo, tudo inclusive.


Aí não cabe chuva. „Chuva a gente tem em casa", dizem os turistas europeus, branquelos e doidos para, logo no primeiro dia, queimarem-se completamente. Umbigo com piercing, queimado total. Céu nublado é triste cotidiano. Fatal. Se drogam com bebida e televisão para que o dia-dia passe logo.

Chuva incomoda imensamente. Ainda mais um toró vindo, uma frente fria. Logo que caem as primeiras gotas, a maioria dos turistas foge daquela praia dos sonhos, da ilha dos sonhos, do país dos sonhos. Nuvens carregadas e um vento frio transformam a terra prometida em um triste inferno. De repente, se sente saudades daquele aquecimento fantástico lá em casa, do sofá tão aconchegante. Será que a gente jamais volta para lá, ou vamos morrer todos neste lugar horrível?

São poucos aqueles que resistem ao ambiente hostil. Um alemão abre a primeira de duas garrafas de vinho, para se aquecer por dentro. Frente fria em pleno verão. Um argentino pipoca nas ondas. Ele gosta de tempo chuvoso, diz. Enfrentar as forças da natureza.

Há um casal embaixo de uma árvore, deitado um em cima do outro. Os corpos subindo e descendo. Outra forma de aquecimento conjugal. Uma boa receita. Curtir enquanto o mundo cai ao seu redor. Ou ficar na água, por tempo interminável. Mergulhar nas ondas quentes. Para respirar, de vez em quando, pôr a cabeça para fora, sentir o vento frio. Depois, entrar na água novamente.


As trilhas na selva se transformam em rios. Segurar nas árvores, pulando pelo mato, para chegar em casa. Sapato não funciona. Tem que ser descalço, para não escorregar. Só os pés descalços seguram no meio da tormenta. A máquina fotográfica tão sensível dentro da mochila ensopada preocupa mais.

Fazer pausas tomando banho no mar. Mais quente dentro do que fora, com esse vento gelado. Uma cachaça pura, paga com as cédulas molhadas. Um barco passa. Acenamos para ele, pedindo carona. Claro que levo vocês. A bordo reina o bom-astral. Formamos uma comunidade de iguais, de desconhecidos. De fugitivos. Os pés pisam na água, o vento no rosto.

Resistimos! Quase até o fim. Chegando no hotel, os covardes já estão no bar enchendo a cara. Rindo de nossos lábios azuis. O que vamos fazer neste tempo tão horrível?, perguntam.

"Todo mundo quer viver para sempre,” um homem sábio disse uma vez. "Mas não sabem o que fazer com um domingo de chuva."

Texto + Fotos: Thomas Milz