[art_3] Brasil: Máscara Negra

Assim como na gravação do CD ‘Pierrot e Colombina’, de Vânia Abreu e Marcelo Quintanilha, eu estive lenta no carnaval. Máscara Negra lenta.... e, exatamente como Arlequim, sofri. Ah! Pierrot... carnaval de cidade vazia, de bares fechados, de solidão no peito. São Paulo pára, creia, ela descansa, não sabe fazer tudo. O comércio abre quando quer, as ruas estão desertas e apenas alguns poucos foliões que ficam, partem em direção ao sambódromo. Exceto o manequim do posto ALE na Fradique Coutinho...

Este?! Este permanece com o braço esquerdo em direção ao alto, aliás, exatamente igual ao ano inteiro. Mude, mude pelo menos no carnaval. Se bem que nesse período ele não vestiu sua habitual farda!


De tênis Nike preto, laranja e prata, bermuda de surfista e camisa florida, ele apresenta-se repleto de adornos... colar de havaiana, óculos amarelo estilo Raiban e chapéu de fantasia de escola de samba. Considerando-se pronto para o carnaval, ele também trás seu crachá no peito. Bom paulistano.

É carnaval?

Se esse texto fosse antropológico, se ele abordasse parâmetros sociológicos, eu então iria discorrer sobre a inversão de valores tão característica do momento. Porém, para mim restaram poesia e a sonoridade do silêncio que me perturba: filosofia. O resto está tudo de pernas pro ar! Coisa que, por sinal, todos fazem no carnaval e no ano inteiro também, mas é justificado apenas no carnaval.

Aflição. Da cidade ‘do Salvador’ tenho pequenos momentos na televisão. Perfume de alfazema e memórias da energia elétrica dessa cidade; saudades dos amigos; vontade de ter visto Vânia com Daniela no trio. Palco que não é mais dela e que, no entanto, sempre será. Baiana, baianas assim como eu. Adoraria ter visto seus olhos na multidão. Será que procuravam palavras flutuando no palco? Assisti isso muitas vezes. Surreal. Salvador Dali... Vânia e a multidão, mas ela disse: Sou a Multidão, tenho todos os CDs!

Olhos. Espelhos do interior. Santo Amaro.

Mas não posso dizer que fiquei sem confetes e serpentinas. Serpentes e víboras. Que pena, não usei minha fantasia...

Ouvi marchinhas antigas de um carnaval que nunca foi meu e que nunca quis. Não desejei. Pulei, dancei o frevo e bebi cerveja. Cantei o hino do Bahia! O Ó, no Ó do Borogodó curti o som dos músicos baianos que comandavam o carnaval e cumpri o circuito dando a volta na quadra atrás de um pequeno trio, uma fubica. Dodô e Osmar.

Nem de perto havia o Corredor da Vitória e nem o encontro de trios na Praça Castro Alves. Não havia a Avenida Oceânica. Sem Farol, sem Cristo, sem término em Ondina... pedra que ronca. Em Sampa tudo é organizado em quadras... quadrados. E eu ‘atravessei o deserto do Saara... a lá lá ô ô ô ô ô ô ô...

Foi bom, perdi Colombina. E Arlequim achou que a teve algum dia, foi? É carnaval! É carnaval e nos salões a gente sempre dança, dancei, ele também. Havia muitas pessoas, mas por mais que se buscasse um olhar perdido ou um ponto luminoso no ombro esquerdo, nada era encontrado. De familiar somente meu amigo segurança. Cada um se vira como pode, faço logo amigos! Este é enorme, muito forte. Apoio.

Os fogos no céu que divertiam as pessoas, explodiam na minha cabeça. Era meu batizado, aprendi a perder, perdi algo que julgava meu, jamais encontrarei novamente, nem quero... do que me documenta, aqui eu vou no Poupa Tempo e na Bahia no SAC. Olha, ‘não me leve à mal, hoje é carnaval’.

Sons.
Sonetos.
Rimas.
Poesia.
Duetos.
Trio.
Trio elétrico.

Fevereiro passa, passa rápido, 28 dias. Fevereiro e carnaval, carnaval e fevereiro. Tudo que é bom dura pouco. Eu quero é mais! Além do mais, a Pérola Negra não caiu e o cachorro da vizinha do bar, aquela que curte a festa da janela da sua casa, bebe cerveja. Beba. Cada um com seu porre.

Melhor que o porre só mesmo a palhaçinha que passa no trenzinho humano com sua placa "Abraços de graça". Uma graça. Afetos do carnaval, perdi um abraço e desfiz um laço. Passou, vai passar, sempre passa.

Agora parece que o país vai, de fato, funcionar afinal, temos que nos preparar, pois, no fevereiro próximo, estaremos aqui de novo. E Arlequim? Bem... vamos levá-lo à Salvador!


Troque a sua fantasia e não esqueça, use sempre uma máscara!

Texto: Ana Karina Rocha
Fotos: Thomas Milz