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[art_3] Argentina: Kirchner e ele

Fernando A. Iglesias é autor do livro ''Kirchner y Yo: por qué no soy kirchnerista'' e deputado federal recem-eleito pela Coalición Cívica.

Encontramos com ele em Buenos Aires para falar sobre a nova presidente argentina, Cristina Kirchner, empossada no cargo no dia 10 de dezembro, sobre competições simbólicas e o lugar da Argentina no Mercosul.



O que você espera de Cristina Kirchner?
Vai ser uma continuidade do primeiro governo Kirchner, do marido dela, Néstor Kirchner. Não vejo que haverá muito cambio. Na parte econômica eles tem de mudar um pouco, por causa dos problemas graves como a inflação e o déficit. Mas substancialmente vai ser o projeto de pais de Néstor Kirchner.

Espero que ela tenha vontade de mudar as atitudes institucionais. Ela falou muito de "qualidade institucional" durante a campanha presidencial. Mas até agora é completamente o contrario. Eles sancionaram mais uma vez a lei de emergência econômica, uma lei que faz com que a presidente, a executiva, pegue os poderes legislativos. Isso não é qualidade institucional.

E agora o escândalo do dinheiro na mala* - as expressões de Cristina foram muito preocupantes. Ela deveria ter pego as coisas que o FBI falou e iniciar uma investigação do caso. E não simplesmente falar que tudo não passa de um simples complô do imperialismo norte-americano.

Se os Estados Unidos realmente tiveram a vontade de prejudicar Cristina Kirchner, eles teriam colocado isso durante a campanha e não depois. Isso é bobagem e não tem nenhum sustento real.

Nos argentinos queremos uma investigação para saber porque US$ 800,000 chegaram aqui na Argentina, quem mandou o dinheiro e para que.

* Em agosto, três venezuelanos e um uruguaio foram detidos na alfândega do aeroporto de Buenos Aires, após sair de um vôo vindo de Caracas. A policia argentina achou US$ 800,000 numa mala de um deles, o venezuelano Guido Antonini Wilson. A policia norte-americana FBI suspeita que o dinheiro foi enviado pelo presidente venezuelano Hugo Chávez para financiar a campanha de Cristina Kirchner.


Mas coisas assim não são novas em eleições...
Não fui uma surpresa. Mas a situação foi ridícula. Wilson chegou aqui com US$ 800,000, e a alfândega acusou ele de "INFRAÇAO DO PROCEDIMENTO ADUANEIRO". Assim, a policia não o acusou de contrabando de dinheiro nem de lavagem de dinheiro.

Pela lei ele teria que perder a metade do dinheiro, ou US$ 400,000, mas ele deixou tudo, não reclamou e simplesmente foi embora. Então o dinheiro não era dele.

Mas já suspeitávamos coisas assim, pois a campanha de Cristina foi absurda, de tanto dinheiro que usaram. E foi incrível também o uso de meios públicos - ela usou o avião presidencial do marido e a TV publica para a campanha.

Agora precisamos de uma investigação sobre a origem do dinheiro. Coisas assim não podem continuar a acontecer por aqui.

Como você vê a situação da Argentina depois de quatro anos de governo Néstor Kirchner?
A situação econômica e social melhorou muito na Argentina. Mas a questão é se isso aconteceu graças a Kirchner ou apesar de Kirchner.

Mas ainda não conseguimos mudar nosso perfil produtivo. Ainda dependemos das exportações de soja e de outros produtos primários. E ainda tem uma industria subsidiada que não é competitiva. A próxima vez que o preço da soja cair, não conseguirão mais subsidiar a industria, que será prejudicada, como aconteceu na era Menem.

A Argentina tem de mudar seu perfil econômico e se transformar numa sociedade da informação e obter uma industria mais evoluída. E temos que mudar o perfil social - a desigualdade de hoje é mais ou menos a mesma dos tempos do presidente De la Rúa, em 2001, antes da crise. Não mudou nada desde então. A crise passou e tudo permaneceu igual. Mas os Kirchner não têm um plano para mudar o perfil econômico e social. Isso é o problema deles.



A Argentina engoliu a liderança do Brasil no Mercosul?
Nos argentinos temos a desgraça de fazermos muita competição simbólica, que existe apenas em nossas cabeças. Faz muito tempo que o Brasil é um país muito mais importante e desenvolvido do que a Argentina.

Cem anos atrás, os argentinos falaram que a Argentina seria os Estados Unidos da América do Sul. Depois a gente começou a falar que a Argentina estava no mesmo nível como Austrália, Nova Zelândia ou Canadá. Depois tudo mudou novamente e falaram que a Argentina tinha condições de competir com o Brasil.

E agora pegamos Chile como modelo... Deste jeito, a gente ainda vai conseguir competir com a Venezuela!

Se continuarmos com as políticas dos Kirchner, essa decadência nacional vai continuar.

Entrevista + Fotos: Thomas Milz

Os últimos três livros de Fernando A. Iglesias
''Kirchner y Yo: por qué no soy kirchnerista'' (Sudamericana, 2007).
"Globalizar la democracia- por un parlamento mundial" (Manantial, 2006).
"¿Qué significa hoy ser de izquierda? Reflexiones sobre la democracia en los tiempos de la Globalización" (Sudamericana, 2004).

Blog
http://fernandoiglesias.blogspot.com/

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