ed 11/2007 : caiman.de

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[art_1] Brasil: Entre Arte e Pichação
Grafite em São Paulo

O que é arte, e que tipo de arte é permitido? Os dirigentes da sociedade têm o direito de julgar arte e de proibir o que não lhe agrada?

Prefeito Gilberto Kassab saiu vitorioso. Um ano atrás ele lançou a "Lei da Cidade Limpa” que mudou, profundamente, o visual da maior cidade da América do Sul. Kassab transformou São Paulo numa cidade sem propaganda, outdoors ou qualquer outra forma de propaganda visual, o que lhe rendeu altas índices de aprovação.


Agora chegou a vez dos grafiteiros. Para eles a cidade virou um paraíso. Antes, tinham que concorrer com as propagandas. Agora, está tudo livre para eles se manifestarem. Mas só se agradam a prefeitura. Se não, vira pichação, na visão deles.

No começo dos anos 90, o grafiteiro Eduardo Kobra foi preso duas vezes por causa dos seus grafites de estilo hip-hop, que vinham do universo americano de grafite. Depois começou a fazer trabalhos de propaganda para lojas de surfe e de skate, deixou para trás as latas de spray e iniciou uma carreira profissional, usando técnicas bem mais sofisticadas como o airbrush e a pistola. Mas com a "Lei da Cidade Limpa”, ele, e outros grafiteiros, perderam clientes.

"Algumas lojas ficaram com medo de fazer o trabalho. Eles não conheceram bem a nova lei. Por outro lado, as pessoas bem informadas, assim que surgiu a lei, tiraram os painéis e a gente começou a fazer um trabalho bacana, só com imagens ilustrativas mesmo. É uma publicidade indireta, que a prefeitura libera como um trabalho de arte.”


Mas a prefeitura é exigente no seu conceito de arte. E tudo que para eles não cabe neste conceito, eles mandam limpar. Assim, até obras dos famosos grafiteiros "Os Gêmeos" foram retiradas das paredes da cidade. No mundo afora, os dois irmãos de São Paulo fazem sucesso com suas obras, menos em sua cidade natal.

Hoje em dia, Eduardo até trabalha para a prefeitura. Recebeu a proposta de pintar partes do Minhocão e os muros do cemitério da Consolação. Em muitos lugares da cidade suas obras, em forma de reproduções de cartão postais dos anos 1910 e 20, aparecem.

Mas será que a ordem pública tem o direito de qualificar e desqualificar o que é arte e o que é pichação?


O artista brasileiro Washington Arléo não concorda com as políticas da prefeitura. "O grafite é uma reação jovem, porém dominada quando o poder econômico e as pessoas que dirigem a estrutura social pegam a emoção verdadeira e pura e a organizam. A pichação é desordenada, ousada, politicamente ativa e extremamente responsável dentro da estrutura marginal. Quando você vê um jovem subir 10 ou 15 metros só para colocar a marca dele, ele quer dizer "olhem, eu existo, eu tenho o direito de falar, e eu sou capaz. Me reconheçam!"


Resta saber se o prefeito Kassab, depois de vencer a indústria de propaganda, também conseguirá vencer sua batalha contra as supostas pichações. Pois onde a prefeitura limpou as paredes, logo depois aparecem novas manifestações de rebeldia.

Parece que não cederão tão facilmente à idéia de participar do projeto de uma cidade limpa.

Texto + Fotos: Thomas Milz

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