[art_1] Brasil: Barbudo contra Xuxu
O Brasil antes das eleições presidencias

Dizem que Geraldo Alckmin é uma pessoa humilde. E bem acessível. "Ele sempre conversa com a gente quando passa andando pelo ponto de táxi", comenta o motorista do meu táxi que trabalha num ponto no centro da capital paulista.

O candidato à presidência até parece um pouco tímido quando sorri para os fotógrafos que o acompanham naquele domingo de manhã. Um vento forte e frio sacode o palco na Praça dos Trabalhadores em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. Estamos apenas uns dois quilômetros de distáncia da fábrica da Volkswagen, e a cidade parece tensa diante da ameaça de milhares de demissões na montadora.


"Você não precisa de credenciamento para chegar perto dele", um assessor tinha me dito no dia antes do comício. E realmente basta balançar a câmera fotográfica diante dos olhos dos seguranças para poder subir no palco. Ao lado de Alckmin está José Serra, candidato ao governo estadual de São Paulo. Ele lidera as pesquisas, e sua eleição parece mais que garantida.

Com Alckmin é diferente. Há pouco mais de um mês do primeiro turno, ele está bem distante de Lula. Mais de trinta pontos percentuais. Levar para o segundo turno, e tentar virar o jogo: eis a estratégia do ex-governador de São Paulo. Picolé de Xuxu é o apelido de Alckmin, atribuído a ele por um colunista do jornal "Folha de São Paulo". Anos atrás, Alckmin ficou indignado com tal descrição. Hoje, ele até brinca com isso.

Alckmin ganhou o apelido por sua suposta falta de carisma. "Ele é um tecnocrata", muita gente o julga. Seu discurso bem elaborado e sem improviso não consegue empolgar muito a platéia de cinco mil pessoas em São Bernardo. Mas há muita gente que até gosta do estilo dele. "Ele não é um ator, mas uma pessoa verdadeira. E precisamos disso, depois de quatro anos de governo Lula", um homen ao lado do palco comenta.

Em contato direto com as pessoas nas ruas, Alckmin parece um pouco sem graça. Morde o lábio inferior quase o tempo todo. E durante a coletiva improvisada embaixo de uma árvore, cercado por jornalistas e equipes de televisão, ele parece tenso e incomodado pela proximidade de tanta gente. Alckmin é médico, e pratica técnicas asiáticas para relaxar e se manter em forma. Desde jovem, ocupou cargos na administração pública. O lugar dele não é no meio de uma multidão, mas numa sala onde possa pensar.


Um dia antes, no Bairro das Pimentas, em Guarulhos. No outro e distante lado do Grande ABC. A praça central do bairro pobre está cheia de gente, esperando por Lula. A encenação é perfeita, já uma hora antes da chegada do presidente, os gritos e músicas da campanha tem sido ensinados ao público. Agora, todo mundo sabe o que fazer. Chegar perto de Lula nem pensar. Os seguranças barram qualquer tentativa de fugir da área de imprensa. O credenciamento foi feito dias antes, e o controle é forte.


O atual presidente também tem um apelido popular: barbudo. E o barbudo está muito bem nas pesquisas. "Aqueles petistas que fizeram erros e participaram do escândalo do mensalão foram afastados por Lula. Ele limpou o partido e o governo, e por isso estamos com ele", explica um jovem ativista do PT.

Um ano atrás, quando o escândalo de corrupção estourou em Brasília, pouca gente acreditava na reeleição de Lula. Hoje, ele tem récordes de aprovação. "Não haverá segundo turno", prevê um assesor do PT quando pergunto se tiver mais comícios entre o primeiro e segundo turno.

Mais magro e de ótimo humor, Lula sobe ao palco sob os gritos da platéia. O que falta de carisma em Alckmin, ele tem de sobra. É nas ruas e praças da periferia e do interior que Lula atinge sua melhor forma. Foi aqui que ele se revelou líder de sindicato e homen das massas. "Deus sabe, que é por causa de vocês, que cheguei na presidência!"


As pessoas no Bairro das Pimentas agradeçem as gentilezas do presidente. E ele promete. "Vamos fazer muito mais do que já fizemos para vocês. O Bairro das Pimentas não vai se chamar mais Bairro das Pimentas, vai ser tão chique que vão chamar de bairro mais nobre de Guarulhos." Lula tem 90% dos votos do bairro, garante um ativista entusiasmado ao meu lado.

Lula adora o discurso improvisado, feito na hora. Até comete gafes, mas salva a situação com pequenas brincadeiras. "Onde eu nasci, no interior de Pernambuco, era prática o prefeito distribuir dentaduras durante a campanha eleitoral!" E aponta para uma jovem na platéia. "Você acha que consegue arrumar um namorado se te faltam muitos dentes?"


Até faz piada com a suposta bebedeira dele. "Eu já fiz bochecha com pinga para matar dor de dente. A elite brasileira vai ao dentista, gente pobre mata a dor com cachaça." Lula está bem mas magro do que meses atrás. Dizem que já perdeu dez quilos durante a campanha. E até colocou botox na testa. Seja como for, seu sorriso parece bem redondo.

Aloísio Mercadante também tem barba, melhor dizendo, um bigode enorme. Companheiro próximo de Lula desde os dias da fundação do PT, ele é candidato ao governo de São Paulo. Mas nas atuais pesquisa, Mercadante está trinta e cinco por centos atrás de José Serra. "O material de campanha de Mercadante ainda não chegou no bairro", dizem os ativistas locais de campanha. Um mês das eleições!

Lula brinca com o candidato petista. "Ele não torce pelo Corinthians", diz o corintiano confesso Lula, "ele torce por Santos. Ele parece carrancudo, por que tem um bigode grande, mas eu vou mandar ele aparar um pouquinho o bigodão, para ele ficar um pouco mais aceitável. Mas é a melhor pessoa para governar o estado!"


"Gente, eu tenho que viajar para Brasília. A Dona Marisa tá lá, e eu vou para casa, porque vocês sabem o que mulher faz quando homen não chega cedo em casa." Acena mais uma vez para a platéia, e quando sua música eleitoral é posta no ar, ele deixa o palco.

"Olé olé olá, Lula, Lula!"

Texto + Fotos: Thomas Milz