caiman.de 07/2007
[art_1] Brasil: Dançando na terra da peixeira
Forró e São João em Campina Grande ![]() Está no ar um cheiro de perfume, de Lampião... Na terra onde se resolve os problemas com uma peixeira grande, também se sabe dançar. Forró, naturalmente. Campina Grande, a "porta" para o sertão paraibano, está em clima de festa. É São João, e o São João daqui é o melhor, e maior, de todo o Brasil. Pelo menos isso é o que se diz por aqui...
O "Parque do Povo", neste dia 23 de Junho, está lotadíssimo de gente. Por dia, estima-se que entre 60 e 80 mil pessoas passam por aqui. Hoje, na véspera de São João, o ar está pesado de fumaça. Pela cidade inteira, há fogueiras; velha tradição de origem cristã misturado com as fogueiras do norte da Europa, onde se celebra o dia mais longo do ano, na mesma época. Ao som do forró mais tradicional do nordeste brasileiro, o chamado "Forro Pé de Serra", e animado pela cachaça maravilhosa da Paraíba, o povo se solta e mexe o quadril. "Dois passos para lá, dois para cá isso é o segredo para quem não sabe dançar forró," a morena dos olhos d'água explica. "O resto se aprende dançando," continua. Mas ela só dança com o namorado... E ele nem gosta muito de dançar, faz só para agradá-la, como confessa mais tarde.
Desde que os ingleses começaram a importar algodão da Índia, nos meados do século passado, a tradicional indústria de algodão da região de Campina Grande entrou em crise. Foram muitos anos de estagnação econômica, enquanto uma meia dúzia de faculdades foi trazida para a cidade, que, assim, virou uma referência para os estudantes do nordeste. Mais ou menos vinte anos atrás, surgiu o plano de transformar a cidade no centro das comemorações de São João no nordeste. Com sucesso - hoje, mais de 1,2 milhões de pessoas participam nas festas juninas, dançam no "Parque do Povo", visitam o "Sítio São João", réplica de uma cidadezinha do sertão, e compram artesanato no "Pavilhão de artesanato da Paraíba".
Até a indústria de algodão está com uma nova esperança: o algodão colorido, que está sendo lançado aos poucos. Já há três ou quatro cores, e outras estão para vir logo. E é 100% natural. Uma mutação genética, que antigamente era vista como defeito, hoje é a grande novidade. Lindas redes em cores de pastel já estão à venda, mantas coloridas e roupas com a tradicional renda. Enquanto isso, as tradicionais quadrilhas se apresentam no "Parque", as bandas de Forró Pé de Serra tocam com seus instrumentos, a sanfona, o triângulo e a zabumba, e todo mundo está com um queijo coalho na mão. Felicidade pura. Nem a chuva consegue atrapalhar a festa. É uma garoa leve, que cai à noite e apaga as fogueiras na cidade.
Num instante, a pureza do ar do sertão volta a invadir a cidade. "No final desta rua," explica um amigo e aponta para o horizonte, "começa o Sertão." Texto + Fotos: Thomas Milz |