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[art_2] Brasil: A onda do "Surreal"
Os preços altos no Rio viram fenômeno de mídia
 
Falar de ondas quando se fala do Rio de Janeiro, nada fora do comum. Mas por essa ninguém esperava...

Foi em janeiro que Patrícia leu um comentário de um amigo, dizendo que o Rio está tão cara que a moeda nacional deveria mudar de nome: Surreal, ao invés do Real.



Aí, na hora Patrícia montou o Surreal: pegou uma foto digital do Real, colocou uma foto com a cara do Salvador Dalí nele e escreveu, onde normalmente se lê "Real", o nome da nova moeda: "SURREAL". Botou a imagem no Facebook dela, e pronto. Na primeira hora, 50.000 pessoas chegaram a ver a imagem. Dentro de 24 horas, os jornais deram a manchete: "Cariocas protestam contra os preços altos e criam nova moeda".

Depois de dois dias, a notícia rolou o mundo, com a velocidade de ondas de um tsunami. O Rio de Janeiro está na mídia principalmente por causa da Copa do Mundo, que começa em junho, como todo mundo sabe. Supermercados, hotéis e restaurantes querem se aproveitar disso e aumentam seus preços. Quem tiver um quarto livre, bota para alugar, por preços astronómicos. "O aluguel do apartamento de uma amiga aumento de 1.500 R$ para 4.000 R$," conta Patrícia. "Vejo que muitos amigos não tem mais condições de morar aqui na Zona Sul do Rio."

Em dois meses, a notícia sobre "a nova moeda brasileira" percorreu o mundo, acrescentando cada vez mais "fatos" surreais. Uma reportagem de televisão mostrou a repórter tentando pagar uma conta de restaurante com o "Surreal", criando a ideia de que a nova moeda estivesse realmente circulando na cidade. "Eu nunca imprimi uma só nota do Surreal, ele existe apenas na versão digital," explica Patrícia.

Ela tampouco fez a nota de 100 Reais que circula na mídia, com um design muito mais professional do que a versão de Patrícia. "Nem sei quem fez..."

E a onda rolou ainda mais longe. Criaram-se, no Facebook, páginas com o nome "Rio Surreal", onde qualquer pessoa pode denunciar preços abusivos, com fotos e tudo. Principalmente na Zona Sul carioca, bioma da classe média-alta. "Não tenho nenhuma ligação com estas páginas, são pessoas que usaram a ideia," conta Patrícia. "E não gosto do apelo que eles tem, de denunciar e boicotar. Pois os preços são abusivos para todo mundo, não só para a classe média-alta da Zona Sul."



Enquanto os cariocas da Zona Sul reclamam do preço alto do tomate (10 Reais por quilo) nas feiras em Copacabana ou Ipanema, os moradores das periferias pagam até 12 Reais por quilo, conta Patrícia. "Precisamos divulgar isso." Não tá fácil para ninguém, companheiro!

Texto + Fotos: Thomas Milz

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