[art_3] Brasil: Adeus floresta amazônica!

Hoje em dia, as palavras „efeito estufa" e „aquecimento global" estão em todos os jornais, discursos políticos e rezas por um futuro melhor.

Será que há esperança para a raça humana? O que devemos fazer para salvar nossa planeta?

Quem sobrevoa a floresta amazônica de Manaus em direção a Nova Aripuanã, uma pequena cidade na beira do Rio Madeira, vê um tapete verde de árvores. Um mundo intáto.

De Nova Aripuanã, pegamos um caminhão para Apuí, 250 quilômetros mais para o sul. A região entre as duas cidades representa uma peça fundamental nos planos do governo brasileiro na excecução da reforma agrária.

7,500 famílias serão assentadas aqui, as terras distribuidas pelo INCRA, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. É o maior assentamento da América Latina.

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As beiras da estrada, no primeiro pedaço do caminho, ainda estão cobertas de árvores. "Os fazendeiros deixam as árvores na beira em pé, para enganar o IBAMA," conta o motorista do caminhão, um fazendeira de Rondônia. "Só que quando você adentra mais uns metros, não há mais floresta, só pasto para gado."

Estamos no meio da estação de chuva na Amazônia, mas a terra está sequíssima, e a poeira voa como no mais seco cerrado brasileiro. Mais para o sul, até as árvores na beira da estrada desaparecem. Ainda há uns poucos troncos gigantes em pé, queimados e pretos.

Os fazendeiros que não têm dinheiro para derrubar a floresta com moto-serras, queimam tudo de uma vez. "Eles nem aproveitam a madeira preciosa, por falta de caminhões para o transporte."

A região seria perfeita para a plantação de pimenta-do-rei, açaí ou guaraná, mas poucos fazendeiros realmente plantam isso. "Há um que planta côco, depois engarrafa a água e a vende no sul."

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Mas os caminhos para os mercados do sul e sudeste são longos demais, os custos de transporte inviabilizam uma produção destes agro-produtos.

Em consequência disso, a maioria dos agricultores aposta na criação de gado, que não implica altos custos ou uma tecnologia mais sofisticada. Quanto mais perto nós chegamos a Apuí, menos floresta sobrou. "Conheço um fazendeiro que derrubou 2,500 hectares em um só ano," conta um professor de Apuí que encontramos no cominho.

„O Ibama até fiscaliza, mais depois o fazendeiro parcela a multa em 300 anos."

Penso numa entrevista que fiz umas semanas antes com um pesquisador brasileiro. Ele me mostrou dois cenários sobre o futuro da floresta amazônica até 2070. No mais otimista, as chuvas diminuiram em cerca de 10% até lá, e a temperatura aumentaria, ao mesmo tempo, de três gráus.

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Neste cenário, uma parte da floresta sobrevive o aquecimento global. No mais pessimista dos dois cenários, os rios secam e a região se transforma num cerrado.
Olho para os pastos infinitos, tomo o último gole de água da garrafa e tiro, com um lençol, a poeira do meu rosto.

Quero saber mais uma coisa. "Porque há tão pouco gado nos pastos?"

O fazendeiro-motorista responde. "Muitos fazendeiros primeiro derrubam a floresta. Só que depois não possuem dinheiro suficiente para comprar gado. Alguns até abandonam as terras deles depois e voltam para a cidade."

"Nem todo mundo sabe ser fazendeiro."

Hoje a noite, vamos celebrar o futuro da floresta amazônica numa churascaria.

Texto + Fotos: Thomas Milz