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Brasil: Bairrista? Eu? Como assim...
Tenho um grande amigo que sempre diz: - Como você é bairrista! Eu nem me importo, amigo pode mesmo fazer essas coisas com a gente, mas só amigo muito amigo. O problema é que o maldito amigo disse isso para os amigos dele que, por sinal, acabo de conhecer. Muito amigo, não?! Tudo bem, passado o abacaxi pra mim, vamos ver a sobremesa que dá pra fazer...
Nesse dia estávamos na praia do Flamengo eu sou tricolor da BAMOR, grito inclusive, Baêa -, mais precisamente na Barraca do Lôro. Sabe como é, né? Salvador tem praia pra todo lado, possui o maior metro quadrado de mar do Brasil! A Bahia é, por sinal, o estado que tem, em quilômetros, a maior costa litorânea e nós, pobres bairristas, aproveitamos... Bom, como ia dizendo, na tal barraca, a coisa é tão ruim que a decoração é assinada por Bel Borba. Lá tem tenda de massagem, espreguiçadeira de madeira forrada de esteira e almofada de chitão, água de coco, uma porrada de roscas, caranguejo, lambreta, casquinha de siri e etc, etc, etc. Depois ninguém entende porque tenho minha paixão visceral pela Bahia. Ah, tenha dó....
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Mas graças aos orixás, os amigos do meu amigo estavam satisfeitos. |
Era quarta-feira de cinzas em Salvador e eles tinham, utilizando a linguagem local, "capotado", "jogado-duro" no carnaval e, é claro, feito outras coisinhas mais que são censuradas pela última sinhazinha do recôncavo que vos fala. Não insista! Sou moça direita e mãe de família e essas coisas eu só falo no pé do ouvido...
É bem verdade, eles não reclamavam. Elogiavam a estrutura da praia, comparavam com a do Rio, se lambuzavam de lambreta com coentro, sorriam, mas eu achava que tava faltando alguma coisa. Como eles poderiam ter adorado estar aqui e estavam voltando pra casa antes do final de semana? Como? Esse pessoal não pode ser sério (sério de baiano) ou alguma coisa ficou a desejar... Minha intuição feminina dizia que ficou faltando aos rapazes uma arrochada "de com força" e eu, com minha boca grande, larguei: - E o arrocha? Aprenderam a dançar o arrocha? Foi minha derrota... e essa parte eu vou pular, mesmo porque, não sei dançar arrocha, não tenho o CD de Silvano Sales "o cantor apaixonado", nunca assisti um show de
Nara Costa e nem participei de gincana no Colégio São Lázaro. Tudo mentira! Nego até a morte...
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Na tentativa de aliviar a barra, eu pensei em começar a listar o que eles poderiam ter feito de preferência a dois mas o meu amigo, mais que amigo, antes mesmo deu abrir a boca me barrou com o sonoro: - Cuidado, ela é bairrista! E eu fiquei com meus pensamentos para só agora colocá-los no papel... acho que é mais ou menos assim...
Em Salvador, o verão dura o ano inteiro, portanto esse clima de praia, de corpos bronzeados, de cerveja gelada e de lascividade permanece como tatuagem. As poucas vezes que chove, entre os meses de junho a agosto, só acontece porque molhado também é uma delícia e o baiano gosta. O prazer retirado das pequenas coisas é a primeira marca do povo daqui, mas a Bahia tem outras coisas que não há em nenhum outro lugar, esse é o problema dos outros, é claro...
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Por exemplo: picolé da Capelinha. Tem de coco, de amendoim pra garantir a sustança, de morango pra chupar de pedaços, de siriguela e umbu pra refrescar quando o calor estiver intenso e outros sabores. |
Tem pra todos os gostos, ô na Bahia tem. Experimente! Não vem com i-pod, mas em compensação com o picolé pode tudo, todos os palitos que estivem escrito CAPELINHA são premiados.
Se você não gostar de chupar picolé, você pode dar uma voltinha na Ribeira e experimentar os sorvetes. Ô gente, geladinho... na casquinha a gente pode passar até a língua e no copinho a gente bebe até o último caldinho. Recomendo alguns: coco verde e ameixa, mas desaconselho as experiências com os sabores exóticos como o de rambutan. Viu que nem sou tão bairrista! Minha amiga Gi inventou de fazer essa experiência e não recomenda, faço como ela, também não recomendo... Mas é claro que a gente pode usar o termo rambutan para outras coisas, use sua imaginação! O baiano é um povo extremamente criativo e eu depois de estudar terminologia estou aprendendo a usar os termos. Uso e abuso.
Na Bahia também tem pão delícia. Derrete na boca... tem recheio e já vem A-BER-TO para você preencher com o que quiser.
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Viva a modernidade baiana! Nesse caso eu recomendo experimentar de tudo e se fartar. Pão delícia é uma diliça! A baiana quando é melada de pão delícia fica uma coisa de enlouquecer. [
Conforme declaração do cantor do Psirico, Márcio Victor, foi após viver uma experiência dessa que a música "Toda Boa", eleita o hit do carnaval 2008, foi composta. Atualmente a melodia pode ser ouvida pelas ruas do Pelourinho e toda Cidade Baixa nas paqueras, conquistas e tentativas similares.] Mulher brasileira é gostosa, a gente sabe. Um pessoal cheio de perna, de bunda, de peito, um conjunto massa, mas mulher "toda boa" é outra história. Meninos, atenção! Ser chamada de "toda boa" é mil vezes melhor do que ser chamada de gostosa. Se fizer a entonação certa então, ai, ai...
Na categoria doces e salgados, tem também a Perini, recomendo a coxinha... coxinha com catupiry... Na verdade eu como de tudo (é da Perini, viu?) e aconselho comer muitas vezes.
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Quando a comida é gostosa a gente repete o prato! E baiano quando come gostoso se lambuza. Como diria uma amiga minha: ui! |
Claro que o acarajé tem que estar presente, mas nada dessa conversa de quente ou frio. Acarajé na Bahia é sempre quente e isso não quer dizer que tem pimenta, aliás isso é uma invenção de quem não tem o que fazer... Frio? Na Bahia? Ô fio, alguém te enganou... a cidade é quente, o povo é caloroso e o que segura a onda é a umidade do ar. Peça o seu pra baiana como quiser, mas coma! E lembre-se, acarajé é comida de santo. Ofereça uma a Yansã, ela vai adorar!
Mas nem só de acarajé a gente vive, mas que acarajé é
hamburguer de baiano, isso é. O dendê é utilizado aqui como em nenhum outro lugar, coma moqueca, bobó de camarão ou galinha de xinxim até melar as pontas dos dedos, mas não esqueça o caranguejo e os mariscos. O corongondé me recuso apresentar, vá a Vital no Pelourinho! Mania de ter tudo na mão... tudo bem que eu acho que tudo começa pelas mãos, mas não é qualquer mão.
Hum, e as frutas? Já chupou uma manga espada até escorrer pelo braço? Chupou umbu até os dentes ficarem travados? Comeu jaca mole e dura pra depois beber água? Confundiu cajá com siriguela?
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Tentou chupar cana e assobiar ao mesmo tempo... aqui o povo consegue... tem virote pra dar e vender... E por falar em fruto, vamos aos da terra. Somente para as meninas; respondam-me, por favor: além da jabuticaba e do mané véio, já provaram um negão? Olha, uma mulher não é completa se não tiver, ao menos uma vez na vida, um negão. E os daqui são do tipo exportação... Repararam como as gringas ficam doidas? Um conselho: os que cheiram a coquinho são os melhores... atenção para os colares! Ui, e por falar em colar, ainda tem o do Ghandi. Troque, troque pelo beijo e sinta o cheiro de alfazema perfumar a sua vida. Cheiro é tudo!
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Agora para os meninos: já pegaram uma piriguete? Sensacional... Piriguete verdadeira só na Bahia. Estamos reinventando a mulher! |
E meu caro, se não providenciou uma, corra atrás. Vai ser no mínimo divertido. Recomendo apenas cuidado porque com piriguete as coisas funcionam da seguinte forma: quem não dá assistência, abre concorrência e, nesse caso, a fila anda e a catraca gira.
Só na Bahia a gente se prepara para o carnaval vivendo o clima delicioso dos ensaios... Cortejo afro, Negra cor, quadra do Ylê, Gerônimo e todos os outros grandes artistas que o mundo já conhece. Axé. A gente tem tudo isso durante o ano todo, mas oferecemos generosamente a todos no Festival de Verão. Venha, venha, venha, venha...
Por fim, mais uma coisinha para os amigos cariocas do meu amigo amado. Se vocês passaram pela Bahia e não conheceram esse pouquinho que eu relatei texto acima, lamento... falta muita coisa na sua vida. Se viveram tudo isso, mas só ficou em Salvador, eu lamento mais ainda.
Conhecer a Bahia significa namorar na rua, andar de mãos dadas, ver o pôr-do-sol no Humaitá e de lá ter alguém ao lado pra te conduzir pelas entranhas do Estado.
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Conhecer Cachoeira e Santo Amaro, comer maniçoba, dormir na rede que deita dois e levanta três, comer sequilho das freiras do Museu do Recolhimento dos Humildes, tomar banho na Cachoeira da Vitória e do Urubu, sambar miudinho o samba de roda, passear na praça e sorrir pra vida é o mínimo que se pode fazer. Faça! [
Todas as delícias do Recôncavo baiano são comprovadas pela autora. Segundo Rocha, "é justamente para ter a possibilidade de poder afirmar algo, que ela está cursando o mestrado em Ciência da Informação". Logo, asseguro a qualidade da informação disponibilizada, no entanto, ressalto que a interpretação é unívoca. E conhecer a Bahia é igual a ir à Meca: ao menos uma vez na vida... Isso porque basta uma vez pra gente ter certeza do retorno, quanto a Meca... ]
Além do recôncavo, a Bahia tem a Chapada Diamantina. Passeio na Gruta da Lapa Doce, na Pratinha, na Gruta azul, trilhas. Dormir ao relento é o básico que se pode fazer num lugar desse. Pense no clima de romance... Imagine a lua... Construa seu colar no Rio de Contas. Jogue búzio. Veja o et no Capão. Agradeça.
Olha, eu adoro Natal; amei ter conhecido Ouro Preto e ter comido pão de queijo inclusive, volto lá acompanhada; fico sempre maravilhada com a beleza natural do Rio e digo: eu mereço o Rio de Janeiro!; acho incrível a quantidade de informação que São Paulo processa num único dia e gosto do ritmo voraz da cidade; não gosto de Recife e acho que Pernambuco tem apenas três coisas incríveis: minha filha que nasceu lá, a praia mais linda que conheço (Porto de Galinhas e de praia eu entendo!) e Fernando de Noronha; e acho que Aracaju tem o melhor caldo de camarão do nordeste.
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Por tudo isso me considero uma pessoa bacana com os outros... |
No entanto, fico insuportável quando falo da Bahia porque, esse mesmo amigo meu que acabou com minha reputação democrática e participativa, fez a seguinte afirmação após eu ter feito minha tatuagem três estrelas que Yemanjá gentilmente tirou do seu vestido e permitiu que eu tatuasse há cinco anos atrás, no dia 2 de fevereiro - : - Nossa, agora ela é uma mulher cinco estrelas! E eu respondi na lata: - Isso amigo! Tenho três tatuadas atrás da orelha, uma riscada naturalmente na mão esquerda e a outra eu faço ver... Só na Bahia pode haver uma mulher cinco estrelas... tenho certeza que nos outros lugares do mundo existem coisas ímpares, mas a Bahia é plural!
Eu fiz a minha nota. Fiz o meu pequeno registro. Se você acha que tem melhor, mande. A Bahia vai sempre te receber de braços abertos. Cuidado apenas com o abraço que vira um laço... Cheiro.
Texto: Ana Karina Rocha de Oliveira
Fotos: Ana Karina Rocha de Oliveira +
Thomas Milz
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