ed 03/2008 : caiman.de

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[art_3] Brasil: Dom João VI no Rio de Janeiro

Terceira parte da nossa trilogia sobre a fuga da corte portuguesa para o Brasil (parte 1 / parte 2)

Duas semanas depois da sua partida de Salvador da Bahia, a esquadra real chegou no seu destino final: o Rio de Janeiro. Com pouco mais de 60 000 habitantes, a cidade maravilhosa era o porto mais importante do hemisfério sul. Aqui, os navios vindo da Europa ancoraram antes de partirem para a Ásia e vice versa. E neste porto o ouro e os diamantes das Minas Gerais foram embarcados para Lisboa. Rio de Janeiro, na época, já era a cidade mais importante do império comercial português.



Foi no dia 7 de março de 1808 que os navios com a família real entraram na Baía da Guanabara. Mas só no dia seguinte, por volta das quatro horas da tarde, eles deixaram os navios e foram levados para terra firme. Nunca antes um rei europeu tinha pisado o solo deste lado do Atlântico. A população do Rio, que acompanhava o desembarque da nobreza, se estranhou ao ver um Dom João VI gordo e as mulheres de turbantes – vitimas de ataques de piolhos no alto mar. Logo depois, turbantes viraram a última moda na colônia...

A corte portuguesa se hospedou nas mais luxuosas casas da cidade. Até a volta para Lisboa, em 1821, poucos deles realmente pagavam os alugueis aos donos das casas e palácios. Em compensação, Dom João promoveu muitos deles barão ou visconde. Nos poucos anos da estada da corte no Rio de Janeiro, mais pessoas foram promovidas do que nos 300 anos antes em Portugal.



Como a corte sempre esteve à beira da falência, outras fontes foram abertas. O primeiro empréstimo da historia do Brasil veio da Inglaterra, e Dom João fundou o primeiro Banco do Brasil, que durou apenas até 1820. Os funcionários corruptos da corte viviam de propina e de negócios ilegais – até hoje há gente que acredita que o mal da corrupção e de caixa dois veio desta época.

Com a abertura dos portos brasileiros, decretada pouco depois da chegada em Salvador da Bahia, os comerciantes ingleses começaram a dominar o mercado com seus produtos baratos e de boa qualidade. Mesmo depois da derrota de Napoleão, anos mais tarde, e a volta da corte para Lisboa, Portugal nunca mais se recuperou economicamente.

Mas a estada da corte no Brasil promoveu a imagem do Brasil mundo afora. Dom João convidou uns dos mais ilustres cientistas e pintores da época para visitarem o Brasil.



Entre eles os botânicos bávaros Karl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix, que percorreram 10 000 quilômetros pelo Brasil. De volta na Alemanha, publicaram seu estudo sobre a flora e a fauna brasileira, até hoje uma obra de referência. Por outro lado, os pintores Jean Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas criaram, através de suas pinturas, um testemunho único do Brasil no começo do século IXX.

Enquanto para o Brasil, e principalmente para o Rio de Janeiro, a estada da corte trouxe muitos avanços, a população de Portugal empobrecia. Cada vez mais alto foi o grito que exigia a volta da corte para Lisboa. Napoleão e a ameaça francesa já não existiam mais, e desta forma não restaram motivos para a corte permanecer no outro lado do Atlântico. Finalmente, no dia 25 de abril de 1821, Dom João e sua corte embarcaram para Portugal. Diz a lenda que D. Carlota Joaquina, a esposa do rei, se despediu do Brasil batendo um sapato contra o outro e dizendo as seguintes palavras: "Nem nos calçados quero como lembrança a terra do maldito Brasil."



Quem ficou no Brasil foi o príncipe D. Pedro I, a única pessoa da família de Dom João e D. Carlota Joaquina que não era feia – segundo relatos da época. Ele foi um dos "Ficos", das pessoas que não queriam voltar para Lisboa. Foi ele que, na tarde do dia 7 de setembro de 1822, apos ter recebido uma carta das Cortes de Lisboa exigindo sua volta e negando seu direito de nomear ministros no Brasil, arrancou as insígnias portuguesas de seu uniforme e gritou: "Farei do Brasil um país livre – Independência ou Morte!"

O Brasil como nação independente tinha nascido.

Texto + Fotos: Thomas Milz

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