[art_3] Brasil: Arnold´s Naschbar - Comida alemã em São Paulo

O restaurante "Arnold`s Naschbar" localiza-se em plena São Paulo, mas logo ao entrarmos, o lugar cria recordações da velha Alemanha, antes da queda do muro de Berlim. "Abrimos o restaurante vinte e cinco anos atrás. A casa era grande demais, a gente tinha que fazer algo com ela. Resolvimos abrir um restaurante", conta o dono, senhor Valdemar, de noventa anos e descendente de italianos. "Sou engenheiro, e engenheiros adoram construir. De repente, a casa tinha oito banheiros. E usávamos apenas dois." Até Oscar Niemeyer himself ajudou na construção da casa, revela o senhor Valdemar com um pouco de orgulho.

Sentímo-nos suspensos no tempo e no espaco: uma velha foto do castelo Neuschwanstein na parede, um montão de livros e revistas dos anos cinquenta e setenta sobre uma mesa,copos de cerveja e taças de vinho por todo lugar.

"Os alemães acham que têm que guardar tudo. Como lembranças, por motivos históricos. Nós brasileiros somos diferentes - a gente sempre joga tudo fora." A moça brasileira deve saber o que está falando - pois morou bom tempo na Alemanha. Erika, esposa de seu Valdemar, é a alma do Arnold`s Naschbar. Sua família era de Karlsruhe, na Alemanha. Erika já mostrou suas habilidades de cozinheira até na TV Globo, no programa da Ana Maria Braga, mas hoje ela se retirou cedo.

Chega o prato típico, o "Schlachtplatte": Quatro salsichões, com chucrute e salada de batata. E dois tipos de mostarda. Cerveja alemã também não falta, até num copo de um litro, se quiser. Acompanhada de histórias da vida do senhor Valdemar. Cresceu na pequena cidade litorânea de São Vicente. Junto com seu amigo João Havelange que, mais tarde, tornou-se presidente da FIFA, balançou-se pelos fios de aço das pontes, de onde os meninos pulavam no mar. Tempos bonitos.

"Moskau im Regen, Tränen im Gesicht" (Moscou sob chuva, lágrimas no rosto) soa a velha música brega alemã dos alto-falantes.

"Apfelcompot" ou "Strudel", qual sobremesa vamos comer? "Apfelstrudel für die Dame, Schokoladenstrudel für mich" (Strudel de maçã para a moça, strudel de chocolate para mim), grita minha boca.

Senhor Valdemar conhece a "Schwarzwald", a "floresta negra", na Alemanha. Viajou muito pela Europa. Num pequeno restaurante na Espanha ele encontrou até o grande Plácido Domingo. "Três canções só para mim - eis o que ele prometeu. Mas depois da segunda, o restaurante encheu de tanta gente que ele teve que parar. A terçeira música fico te devendo, Domingo ainda disse pra mim."

A gente está satisfeito. E o senhor Valdemar um pouco cansado. Mas antes de se retirar, conta mais uma história das suas viagens pela Europa. Encontrou-se com um cantor em Nizze, na França. "Hoje, ele é conhecido mundialmente. Na época, ninguém o conhecia. Ficamos amigos. Ele até me deu fitas com as primeiras gravações dele. Infelizmente, as fitas foram roubadas", conta com lágrimas nos olhos.

O grande cantor até fez umas visitas a São Paulo e, nestas ocasiões, ficou na casa da família.

"Puxa, esqueci o nome dele. Mundialmente conhecido hoje em dia." Lembranças dos tempos passados. Tempos passando. "Você é de Colônia? Depois da guerra, a catedral estava cheia de buracos - dos tiros." Nos despedimos. O "Schlachtplatte" dá sono.

"Júlio Iglesias é o nome dele, daquele cantor", o senhor Valdemar consegue lembrar finalmente.
Lá fora, a garoa típica de São Paulo. "Moskau im Regen, Tränen im Gesicht" - "Moscou sob chuva, lágrimas no rosto!"

Texto + Fotos: Thomas Milz