[art_1] Brasil: Madaloca multicolor
A Vila Madalena – a mancha mais colorida de São Paulo



São Paulo é preto e branco, de pedra e concreto. Até o final do horizonte, uma mistura de pragmatismo frio e obrigações inacabadas, gerando uma tristeza geral. Toda São Paulo está carimbada disso. Toda São Paulo? Não, há um pequeno lugar ao oeste do centro, que ainda resiste à tentativa de uniformização, da ditadura da feiúra. Aqui quem domina são as cores, borradas nas paredes das casas de um ou dois andares, ou como grafite nos muros, os azulejos coloridos das calçadas. Bem-vindo a Vila Madalena, a mancha multicor de São Paulo.

Por aqui localizam-se uns dos melhores restaurantes, clubes de música ao vivo, barzinhos e discotecas da cidade. Enquanto os mais velhos da clase média-alta apreciam uma comida japonesa ou italiana, os filhos deles festejam nas ruas. De quinta a noite até segunda de madrugada, as ruas íngrimes transformam-se em estacionamentos buzinantes, as calçadas cheias de mesas de restaurante, e dos clubes com nomes como "Infarta Madalena" fogem sons altos. E no terreno da escola de samba "Pérola Negra" há uma multidão de sambistas, dançando ao som da bateria. E quando, nas horas da madrugada, a escola sai para as ruas, tocando seus sambas, engarrafando o lugar, que vira, finalmente, uma zona.


Visto de dia, notam-se os muros cheios de grafite, as muitas lojas de artesanato e de moda além do feitiço geral da área. É por aqui que se encontra o projeto "Cidade Escola Aprendiz" do jornalista Gilberto Dimenstein, um projeto de comunidade de bairro, que procura, através de eventos culturais, integrar espaço público e as crianças da Vila, lutando, assim, contra a marginalidade espacial e ao mesmo tempo social. Cinema ao ar livre, grupos de dança, malabarismo e circo são partes integrais do projeto como, também, os jovens que praticam skate nos becos.

Também faz parte o projeto "100 Muros", responsável pelo enfeite de grandes partes da Vila. Em parceiria com artistas plásticas da região, as crianças pintam muros e calçadas, colam mosáicos e azulejos bem coloridos – tudo para dar mais ênfase ao espaço público tão mal-tratado no Brasil, abusado como lixão ou terra de ninguém, separado do espaço privado por grades e muros altos.

Se a Vila consegue, no futuro, manter seu papel excepcional, em comparação com os outros bairros da cidade, é difícil dizer. Mas, nas colunas dos morros da Vila, já crescem os aranha-céus, os prédios altos de apartamentos cujo preço aumenta quanto mais alto, mais afastado da "maldita" terra e mais perto do céu. Aqui em cima, só Deus como vizinho. Se Ele realmente existe.

Texto + Fotos: Thomas Milz

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